Em manutenção!!!

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Entra agosto e dependemos do Temer...




“Decisão já

Por Mary Zaidan

Conhecido como o mês do desgosto, o agosto de 2017 pode surpreender e até ser o oposto. Já nesta primeira semana tem-se a chance de ver resolvido o destino do presidente Michel Temer, em sessão na Câmara dos Deputados prevista para quarta-feira. E, seja qual for o resultado – contra ou a favor da abertura de inquérito --, o país ganha. Fecha-se um capítulo, passa-se a página.

Para dar início à votação que autoriza o prosseguimento das investigações contra o presidente é necessário o registro de presença de 342 dos 513 deputados, número exigido também para aprovar a denúncia.

Quórum dificílimo. Sem alcançá-lo, a votação é adiada e o perrengue prossegue.

Do contrário, o mais provável é que Temer vença. Não por ter votos suficientes, mas pela dificuldade de seus opositores em reunir dois terços da Casa contra ele.

Na tentativa de não ser apeado do cargo, Temer tem lutado com todos os recursos disponíveis, literalmente. Usa sua experiência congressual para tentar convencer deputados a comparecerem à sessão, ainda que se abstenham do incômodo de votar em favor dele. Mima, adula, antecipa a liberação de emendas parlamentares que, mesmo tornadas obrigatórias por lei, tiveram calendário surreal neste ano – 63% delas foram atendidas no primeiro semestre, a maioria em julho.

Do outro lado a desordem é total.

Entre os tucanos – que usam a fama de muristas de acordo com a conveniência -- a ideia é usufruir dos ministérios que ocupam, das benesses do governo, e rechaçá-lo no plenário da Câmara. Um escárnio.

O PT, propagador da tese de “golpe” do vice de Dilma Rousseff, se encolheu em relação às denúncias de Joesley Batista, base da incriminação de Temer. Ao presidente atribuem a culpa por todos os males criados pelos governos petistas: aumento do desemprego, queda do consumo, recessão. Mas, claro, se calam quando o papo é JBS, enriquecimento ilícito, dinheiro sujo.

O fato é que nem mesmo a impopularidade recorde do presidente conseguiu fazer pegar o “Fora Temer”, que aparece em cartazes, mas não colou nas ruas, não encantou multidões. Como parcela significativa dos opositores do presidente tem contas mais pesadas do que ele no capítulo corrupção, a pregação pró-moralidade ficou prejudicada.

Ainda que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tenha fatiado as denúncias contra Temer e ameace com uma ou duas a mais, o resultado desse primeiro cabo de guerra pode pôr fim a um ciclo. E ditar as manobras seguintes – políticas e jurídicas.

Se o time de Temer conseguir reunir quórum e, ao mesmo tempo, impedir que se forme maioria qualificada contra o presidente, derruba-se a denúncia. Dificulta-se ainda o picadinho que Janot imaginou. Se perder, Temer é afastado e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assume. Imediatamente.

Maia, também citado pela Lava-Jato, frequenta a torcida de muitos. Curiosamente, por rezar a mesma cartilha de Temer.

Está alinhado com a rigidez fiscal do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defende as reformas da previdência e tributária. Mais: já provou que tem estrela, atributo essencial para jornadas de sucesso na política. Tornou-se presidente da Câmara dos Deputados depois dos rolos que levaram Eduardo Cunha à renúncia e posterior cassação. E, aos 47 anos, pode ser presidente da República se Temer for descartado.

O desfecho – se Temer ou Maia – pode até não empolgar. Mas, de um jeito ou de outro, o melhor seria decidir já. Daria fôlego ao país e outros ares ao malfadado mês de agosto.”

-----------
AGD comenta:

Agosto, chamado mês do cachorro louco, começa amanhã. A política brasileira está apinhada de mortos neste período do ano. Não precisa nem citar Getúlio e Agamenon, os mais lembráveis. Agosto é agosto pelo conjunto da obra.

E, como vocês leram no texto transcrito, é a vez do Temer. Não de sua morte física, mas, sua morte política. Será? A Mary Zaidan sonha com uma “decisão já” para o caso da denúncia da PGR, e eu sonho com uma solução independente do mês e do cachorro louco. Seria uma renúncia do Temer. Imitar o Getúlio é demais para ele. Fiquemos com a renúncia então.

Sonho? Ora, é a única coisa que ainda temos de graça no país e não paga nem imposto. Se o Temer tivesse feito isto logo depois que o Joesley mostrou que não existe bandido só no setor de carnes, o Brasil já estaria se soerguendo dos escombros petistas.


Agora só nos resta sonhar, e por que não, rezar um pouquinho para que Deus ou o diabo ilumine o Temer, e que a nossa combalida Constituição nos guie numa saída honrosa e produtiva.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Basta!




“Basta!

Por José Paulo Cavalcanti Filho

Basta, chega, fim (Foto: Arquivo Google)
O professor Arthur Laffer (Chicago), ao estudar a Hawley–Smoot Tariff Bill (1930), enunciou tese que acabou conhecida como “Curva de Laffer”. Para ele, a tributação pode ser aumentada só até certo limite. Após o que, a cada novo tributo, a arrecadação diminui. Ocorre que, ao enunciar sua Curva, Laffer imaginava que dito limite se daria por volta de 70% do PIB. Estava enganado.

Posteriormente (1984), os professores Cristina e David Sobel (Berkeley) estudaram melhor sua planilha. E chegaram a novo patamar, hoje consensualmente aceito pelos economistas, de 33%. A partir daí, a sociedade recusa-se a pagar mais. E começa a se proteger. Por vias lícitas ou ilícitas, esse é o mundo real. Sendo bom lembrar que, no Brasil, andamos perto dos 40%. Já não dá para aumentar tributos. Mas o governo, impávido colosso, é insaciável. E quer sempre mais tributos.

Racionalizar serviços?, nem pensar. Demitir funcionários sobrando?, esqueçam. Escolher bons gestores ou limitar salários?, Deus me livre. Preocupação com austeridade?, nenhuma. Nossas elites sonham sempre com mais dinheiro. Agora, querem até que suas eleições sejam bancadas por grana dos impostos. O que é indecente, num país com educação e saúde indigentes como o nosso. Em troca de apoio parlamentar, por cargos e ministérios, estão sempre dispostos a fazer qualquer negócio. Sobretudo quando há gordos recursos à disposição. Como se fossem corsários à espera de repartir um butim.

O festival de gastos públicos é monumental. O Ministério Público, com salários nominais de até 33,7 mil reais (afora penduricalhos como auxílio moradia et caterva), esta semana se concedeu aumento de 16,7%. Num país com inflação por volta dos 4% anuais. E salário mínimo inferior a mil reais. O penhor de nossa igualdade não vale tanto. 13 milhões para escolas de samba?, claro. Dinheiro para emendas parlamentares?, sem dúvida. A farra não tem fim. Ao contrário de países sérios que viveram crises parecidas com a nossa.

Em Portugal, o governo cortou 20% de todos os salários públicos. Aposentados, inclusive. Ficaram sem aumentos por cinco anos. Nos Estados Unidos, país que sabidamente não é pobre, presos pagam por suas estadias nas prisões. Eles ou seus familiares. Presos federais custam 1.434 dólares/mês. No Brasil, que sabidamente não é rico, as famílias dos criminosos, em vez de pagar por seus presos, recebem subvenções. O governo é mãe gentil. Na última crise, Obama cortou 10% de todos os salários públicos. E proibiu aumentos por três anos. Esses países escaparam de suas crises. E nós, não.

Por aqui, as corporações não aceitam ficar sem esses reajustes. Fazem greve por aumentos, sempre, acima da inflação. Todos os anos. O governo, fraco, aceita. E recebem seus salários, como se tivessem trabalhado, todo fim do mês. Deitado eternamente em berço esplêndido, somos o único país do mundo em que isso acontece.

O governo de hoje é tão ruim quanto o anterior, eis a questão. Os vícios são os mesmos. As pessoas que o compõem, quase todas as mesmas. A falta de esperança, a mesma. Fernando Pessoa disse, premonitoriamente (em “O Interregno”), que Sem força, não se pode governar. E sem opinião, não se pode durar. Força o governo já não tem. E opinião pública do seu lado, nem pensar. A conclusão, segundo nosso poeta, é que não pode mesmo durar. Basta! Ó pátria amada, idolatrada, Salve! Salve!”

----------------
AGD comenta:


Sem comentários

"Progressismo", "conservadorismo", o "tríplex" e o sítio de Atibaia...




“A ousadia do MST

O Estado de S. Paulo

Já foi o tempo em que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) invadia “latifúndios improdutivos”, nome que o bando usa para qualificar qualquer fazenda que ocupa e depreda em nome do que chama de “reforma agrária”. Antenado com as novas tendências e ciente de que a luta contra a corrupção está na crista da onda, o MST deflagrou sua mais recente “jornada nacional de luta pela reforma agrária” sob o slogan “Corruptos, devolvam nossas terras!”.

É claro que se trata de rematada impostura, mas não se pode esperar nada diferente de um movimento cuja origem – é o que eles dizem em seu site – remonta aos “primeiros indígenas” que “se levantaram contra a mercantilização e apropriação pelos invasores portugueses do que era comum e coletivo: a terra, bem da natureza”. É em nome dessa alegada injustiça histórica que o MST há mais de três décadas usa a causa dos pequenos agricultores como pretexto para seus propósitos delinquentes e liberticidas.

Um desses propósitos atualmente é defender o ex-presidente Lula da Silva e o PT, partido do qual o MST é braço. Não faz muito tempo, em fevereiro de 2015, Lula invocou o “exército de Stédile”, em referência ao líder do MST, João Pedro Stédile, quando precisou amedrontar os brasileiros no momento em que estes exigiam, em grandes manifestações, a destituição da então presidente Dilma Rousseff.

Assim, a alardeada indignação do MST com a corrupção, que motivou as mais recentes invasões, nada tem a ver com Lula, já condenado em primeira instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Tampouco tem a ver com os outros petistas encarcerados ou processados em casos semelhantes ao do chefão do partido. Essa corrupção não interessa ao MST, é claro.

O “exército de Stédile” preferiu concentrar-se em terras de “latifundiários” que “são acusados, no cumprimento de função pública, de atos de corrupção”. Sob esse excêntrico argumento, que nada tem a ver com reforma agrária, invadiu a fazenda de um amigo do presidente Michel Temer, além de terras do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira, da família do senador Ciro Nogueira (PP-PI) e da família do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, entre outras propriedades.

O MST reivindica a fazenda de Ricardo Teixeira dizendo que o ex-cartola “não só desencadeou todo um sistema de estelionato sobre o futebol e lavagem de dinheiro no Brasil”, como “sua expertise em corrupção no futebol é pauta do FBI e da polícia espanhola”. Segundo o grupo, Ricardo Teixeira lavou dinheiro da corrupção por meio da aquisição “de grandes extensões de terra”.

Já para justificar a invasão da fazenda pertencente a uma empresa de João Batista Lima Filho, o MST informou que aquelas terras devem ser destinadas à reforma agrária porque Lima Filho é “parceiro de longa data do presidente golpista” e, “de acordo com diversas denúncias”, ajudou Temer “a construir sua carreira política e seu vultoso aumento de patrimônio, com base em propinas e extorsões”. Para completar o engodo, Mercedes Zuliane, dirigente nacional do MST, informou que os invasores estavam ali para fazer justiça histórica: “Somos herdeiros de uma história da oligarquia corrupta que adquiriu terras assassinando indígenas, escravizando e cometendo atrocidades no processo de formação da sociedade brasileira. Estamos aqui para cobrar o que é nosso por direito. Todas as terras de corruptos devem ser devolvidas ao povo”.

Tudo isso seria apenas anedótico não fosse a constatação de que o MST continua a atuar livremente, embora infrinja a lei dia e noite. Mais do que isso: confiante na impunidade, sente-se estimulado a cometer seus crimes em nome de uma agenda política deletéria, que inclui não apenas “derrotar o projeto da burguesia”, mas também promover a defesa intransigente de ditaduras latino-americanas, como a da Venezuela, com a qual, aliás, o MST mantém estreita colaboração. O Estado não pode continuar inerte diante de quem desafia a ordem de modo tão insolente.”

-----------------
AGD comenta:

Eu fico refletindo o que aconteceria se alguém ou algum grupo tivesse razão ao se lembrar da história, justificasse todos os seus atos baseados nela. Imaginem, um grupo de bom-conselhenses reivindicando participar da missa das 9:00 em nossa Matriz de Jesus Maria e José, porque historicamente era quase um direito do cidadão da cidade assisti-la, e hoje, soube, não existe mais. O que faria o novo pároco?

Isto me veio à mente pelo procedimento de invasão de terras do MST, contado acima pelo editorialista do Estadão, com a justificativa das terras pertencerem historicamente aos brasileiros, agora com o viés de se invadir terras de pessoas acusadas de corrupção, sem ainda nem serem condenados por isto.

Eu não sei o que dirá o Lula a este respeito, pois, se alguns que tiveram as terras invadidas ainda são só acusados, imaginem ele que já foi condenado por ser detentor do já conhecido “tríplex do Guarujá”.

Será que o MST, em seu ramo urbano não irá ocupar o prédio que a Justiça diz ser do Lula por obra e graça da corrupção? E o sítio de Atibaia, que Lula diz ter apenas os pedalinhos do Lago, enquanto a PF diz que é todo dele por força também de práticas corruptas, não daria, pelo menos, um bom pomar, para o MST, mesmo que queimasse os pedalinhos?

No final das contas, o princípio chave de um Estado Democrático de Direito é o respeito à Lei. Sem isto, caímos num limbo total, e na incerteza, como está ocorrendo agora. Os cidadãos precisam, para cumprir a lei, ter a certeza de que se não cumpri-la, o serão forçados a fazer isto pelos que são ungidos no papel de mantenedor da ordem, que é o Estado, em nosso caso, e suas instituições.

A ideia de “progressismo social” com o qual se pretende encurtar ou excluir as injustiças históricas, até aqui, só gerou outras injustiças e atraso para todos. A ideia que a natureza não anda aos saltos é muito mais prudente para todos, e no final, todos sobem juntos. As mudanças bruscas sempre trouxeram maiores problemas do que soluções. Ou seja, o “conservadorismo moderado”, ainda é a melhor ação, em todos os sentidos.


Bem, para quem pretendia, apenas dizer que não tinha comentários sobre a bandalheira do MST, já escrevi bastante. Até a próxima!

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Com a "Emenda Lula" seremos todos nulidades sem-vergonha




“A república dos sem-vergonha

Por José Nêumanne

O historiador cearense Capistrano de Abreu (1853-1927), colega de classe de padre Cícero Romão Batista no seminário de Fortaleza, não ficou famoso por causa disso, mas por uma piada, seu projeto de Constituição, que rezava, categórico: “Artigo 1.º : Todo brasileiro deve ter vergonha na cara. Artigo 2.º: Revogam-se as disposições em contrário”.

Nenhum de nossos projetos constitucionais teve o poder de síntese dessa chacota, que de tão atual se tornou denúncia. A cada nova legislação este país se torna cada vez mais a “república dos sem-vergonha”. E a sociedade dos otários espoliados. A primeira página do Estado de anteontem registrou: Câmara quer mudar delação premiada e prisão preventiva. E a notícia a que ela se refere, da lavra de Isadora Peron, da sucursal de Brasília, completou: “Também estudam revogar o entendimento de que penas podem começar a ser cumpridas após condenação em segunda instância”.

Na mesma edição deste jornal, que se notabilizou pelas lutas pela abolição da escravatura, pela proclamação da República, contra o Estado Novo e a ditadura militar, os repórteres de política Pedro Venceslau e Valmar Hupsel Filho relataram a saga de Vicente Cândido (PT-SP) para promover uma reforma política que inclua um Fundo Partidário de, no mínimo, R$ 3,5 bilhões; o distritão, em que só os mais votados para deputado se elegem; e, last but not least, a “emenda Lula”. Esta merece destaque especial, por impedir que postulantes a mandatos eletivos sejam presos oito meses antes da data marcada para a eleição, mesmo que só venham a ter suas candidaturas registradas oficialmente quatro meses após esse prazo. O nome do presidenciável do Partido dos Trabalhadores (PT), no qual milita Sua Candidez, é usado como marca registrada da emenda por atender ao fato de que Luiz Inácio Lula da Silva acaba de ser condenado a nove anos e meio de prisão e proibido de ocupar cargos públicos por sete anos pelo juiz Sergio Moro, na Operação Lava Jato.

A proibição de prender quem avoque sua condição de candidato é a mais abjeta das propostas do nada cândido (claro, impoluto) relator, mas não é a que produzirá, se for aprovada pelo Congresso Nacional, mais prejuízos, em todos os sentidos, para a cidadania. As medidas cinicamente propostas pelo “nobilíssimo” parlamentar produzem, em conjunto, um despautério que provocaria a aceleração do enriquecimento dos partidos e de seus representantes, em particular os dirigentes, sob a égide de um sistema corrupto e que trava a produção e o consumo, empobrecendo a Nação. O financiamento público das milionárias campanhas eleitorais legaliza a tunga ao bolso furado do cidadão.

Ex-sócio do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, que não sai do País para não ser preso pela Interpol, Sua Candura-mor, o deputado ecumênico, integra o lobby a favor da legalização dos cassinos e foi um dos idealizadores da campanha de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara. A reforma ressuscita uma ideia que nunca pareceu ter muito futuro e sempre foi apregoada pelo presidente Michel Temer: o distritão. Trata-se da volta do tílburi ao Vale do Silício, pois reduz a pó as tentativas vãs de tonificar a democracia, dando mais força aos partidos, e estimula o coronelismo partidário, usando falsamente a modernização, confundindo-a com voto distrital.

O Estado noticiou que o patrimônio de Cândido aumentou nove vezes nos últimos nove anos (descontada a inflação no período). Neste momento, em que as arenas da Copa do Mundo da Fifa em 2014 – de cuja lei foi relator – têm as contas devassadas por suspeitas de corrupção e um juiz espanhol mandou prender o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, o eclético parlamentar achou um parceiro no Senado: o relator da reforma política e líder do governo Temer na Casa, Romero Jucá (PMDB-AP).

Enquanto Cândido e Jucá providenciam a engorda dos cofres partidários para garantir as campanhas perdulárias, que vinham sendo feitas à custa de propinas milionárias, a comissão especial da reforma do Código de Processo Penal (CPP) batalha pelo abrandamento da legislação de combate à corrupção no Brasil.

A reforma do CPP, que é de 1941, foi aprovada no Senado em 2010. Na Câmara ficou esquecida até o ano passado e foi desengavetada durante o mandarinato do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso em Curitiba. O presidente da comissão especial que discute as mudanças na Casa, deputado Danilo Forte (PSB-CE), que apareceu recentemente na lambança de Temer ao tentar atravessar a adesão dos dissidentes do PSB ao DEM, discorda de presos fecharem acordos de delação premiada com procuradores.

Forte também considera que é preciso punir juiz que desrespeite as regras da condução coercitiva, que deveria ser empregada apenas se uma pessoa se negar a prestar depoimento. O presidente da comissão especial parece até ter inspirado sua ideia na recente decisão de Nicolás Maduro, que ameaçou de prisão os juízes que o Parlamento da Venezuela – de maioria oposicionista e contra a Constituinte que ele quer eleger no domingo, no modelo da pregada por Dilma – escolheu para a Suprema Corte.

A reforma política de Cândido e Jucá e as mudanças no CPP propostas por Forte, aliado de Temer, evidenciam tentativas de adaptar as leis eleitorais e penais do País aos interesses pessoais de chefões políticos encalacrados nas operações, Lava Jato entre elas, inspiradas em convenções da ONU, da OEA e da OCDE contra a roubalheira geral, importadas por Fernando Henrique e Dilma e agora ameaçadas pelos que defendem a impunidade de quem for flagrado. Esse “acordão”, que denota fraqueza e sordidez, põe o Brasil, já na contramão da prosperidade, também na trilha oposta da luta contra o roubo. Aqui a vergonha empobrece o portador.”

--------------
AGD comenta:

Pela clareza do texto anterior pensei em não fazer comentários. Mas, citei tanto a Constituição exposta em seu início, sem saber quem era o autor: Capistrano de Abreu, que faço algumas considerações marginais (não os irmãos Batista, mas, na margem).

Tudo indica que a crise em nosso país é mais moral, do que econômica, política e social. Não vimemos num país capitalista, onde as transações econômicas não tem fundo moral, mas, as consequências dos atos atingem apenas os agentes privados. Nem tampouco somos um país socialista no qual elas provêm do Estado e para ele voltam, e tudo depende da política.

Estamos numa espécie de limbo onde cada uma tenta se aproveitar de tudo e de todos sem o mínimo senso de moral que tem de haver em qualquer relação social, principalmente na política.

A tal da “Emenda Lula” (não permite a prisão de candidatos com oito meses de antecedência das eleições) é uma excrecência, que se passar temos que citar outro autor e pensador brasileiro o Rui Barbosa que dizia:

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

E nulidades é o que não faltam neste nosso país. E o pior de tudo é que elas tentam se sobrepor aos outros, não deixando de ser nulos, mas, pela força de sua nulidade. Hoje o Brasil parece viver em torno do Lula, um retirante como eu e tantos outros, mas, que ao contrário de mim, resolveu não estudar e ter uma boa vida, até quando descobriu que a melhor maneira de fazer isto era mobilizar as “massas”, usando-as em seu benefício.

E, até hoje, continua se fazendo de vítima por terem descoberto que ele é o grande culpado de quase todos os males que afligem esta nação. A seu favor ele tem apenas sua ignorância e falta de estudo, pois sempre pode dizer que “não sabia”, pois, apenas lhe contaram a coisa errada.


Se a “Emenda Lula” passar, não há nada mais correto do que o título do texto transcrito. Somos “a república dos sem-vergonha”.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Venezuela caindo de "maduro"




“Venezuela rumo ao impasse

O Estado de S. Paulo

A intransigência do presidente Nicolás Maduro, à frente de um regime cada vez mais abertamente ditatorial e disposto a tudo para reprimir, com uma violência que só faz crescer, as tentativas da oposição de abrir caminho para uma solução para a grave crise econômica e social em que está mergulhado o país – por meio de manifestações que mobilizam todos os setores da população –, ameaça a Venezuela com dias sombrios. Repressão que nos últimos meses já deixou um saldo de mais de 100 mortos, centenas de feridos e milhares de presos.

Todas as ações do regime chavista obedecem rigidamente à lógica de impedir que a oposição tome iniciativas capazes de representar o menor risco para a ditadura. Se, com base nas poucas aparências democráticas mantidas como concessão para iludir os incautos, ela consegue algum avanço – como foi o caso da eleição na qual obteve maioria na Assembleia Nacional –, logo o regime lança mão dos outros poderosos instrumentos de que dispõe para neutralizar essas veleidades democráticas de acabar com a “revolução bolivariana” que precipitou a Venezuela no abismo em que se encontra.

Foi o que fez o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), controlado pelos chavistas, por meio de decisões que na prática cassaram todo o poder que o povo deu à oposição na Assembleia. O mesmo fez o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), também dócil ao chavismo, com sucessivas medidas adotadas no ano passado para inviabilizar um referendo previsto na Constituição que poderia ter interrompido o mandato de Maduro.

Quando mesmo assim o descontentamento popular e as manifestações cresceram – por causa da revolta com as dificuldades de toda ordem provocadas pela crise –, e, além disso, surgiram sinais de dissidência no próprio campo chavista, Maduro endureceu ainda mais o jogo. O sinal de alarme da dissidência veio com as críticas cada vez mais frequentes e veementes da procuradora-geral de Justiça, Luisa Ortega Díaz, à dura repressão às manifestações.

Ao convocar uma Assembleia Constituinte para se desfazer, com aparência de legalidade, da Assembleia Nacional na qual a oposição é legitimamente majoritária, Maduro nada mais faz do que dar outro golpe. A eleição dessa Assembleia foi preparada para lhe garantir maioria, com absoluta certeza: a maior parte de seus membros será eleita – no próximo domingo – por organizações controladas pelo regime chavista. Só o restante por voto direto. Uma farsa, logo denunciada pela oposição – que organizou referendo informal no qual mais de 7 milhões de venezuelanos repudiaram a manobra –, pela procuradora Ortega Díaz e pela opinião pública internacional. Só apoiada pelos regimes bolivarianos que ainda restam na América Latina, por Cuba e, no Brasil, pelo PT e pelo PCdoB.

A reação da Assembleia Nacional foi desafiar Maduro destituindo todos os 13 membros titulares e 20 suplentes do Tribunal Supremo e nomeando outros para seus lugares, além de convocar nova greve geral para antes da eleição da Constituinte. E a resposta de Maduro – que promete prender os 33 juízes nomeados pela Assembleia – ameaça criar um perigoso impasse. Perigoso principalmente porque ele conta com o apoio decidido das milícias armadas pelo regime.

Foi certamente levando em conta a dura realidade dessa correlação de forças que a reunião de cúpula do Mercosul, realizada em Mendoza, na Argentina, decidiu não impor novas sanções à Venezuela – já suspensa da organização –, mas em vez disso convidar Maduro e a oposição para negociar uma saída para a crise em Brasília. Mesmo que tal convite certamente não seja aceito. De fato, sanções como o bloqueio à compra de petróleo do país, por exemplo, especialmente pelos Estados Unidos, podem ter um efeito contrário ao desejado, ao oferecer a Maduro um bode expiatório para seu fracasso.

O desafio da diplomacia do Mercosul e dos Estados Unidos é encontrar outras formas de pressão mais eficazes.”

-------------
AGD comenta:


A Venezuela é um país caindo de “maduro”!

Doenças grandes, grandes remédios...




“Um caso de cura da nossa doença
        
Por Fernão Lara Mesquita

Há 100, 120 anos os Estados Unidos estavam numa crise muito parecida com a do Brasil de hoje. O fim da cultura rural, a urbanização caótica, a explosão da miséria e da violência nas grandes cidades, a descoberta da economia de escala esmagando o trabalho, as novas tecnologias (ferrovias) proporcionando a ocupação econômica de territórios virgens antes que houvesse regras para sua exploração, os robber barons que primeiro trilharam esses caminhos criando monopólios com ajuda de políticos corruptos e levando a patamares nunca sonhados o poder de subornar...

Com o problema e suas causas essenciais diagnosticados, o remédio, formulado na legislação antitruste para impedir a criação de monopólios, não era ministrado por um sistema tomado por caciques que controlavam havia décadas as portas de entrada da política e do serviço público. A separação dos Poderes, a independência de um Judiciário também venal, a blindagem dos mandatos, todas as instituições criadas pelos fundadores para garantir a hegemonia da vontade popular estavam sendo usadas para anulá-la. A expressão da vontade dos eleitores exclusivamente por meio de canais de representação, combinada com a intocabilidade dos mandatos, tinha sido pervertida em garantias de impunidade contra a falsificação dessa vontade. Ia morrendo numa odiada tirania da minoria o sonho do governo do povo, pelo povo e para o povo.

As esperanças começaram a renascer com o movimento Progressista (1890-1920), que se inspirava no modelo suíço de recurso a ferramentas de democracia direta para contornar instâncias de representação recalcitrantes. O foco concentrou-se em dois instrumentos importados e uma adaptação nacional. Os direitos de referendo das leis dos Legislativos municipais e estaduais e de propor leis por iniciativa popular, como se fazia nos cantões suíços, para criar um acelerador para forçar reformas e um freio contra leis viciadas por interesses espúrios. Eleições primárias diretas para neutralizar o primeiro foco de acordos contra o direito de escolher, que estava no poder dos caciques de decidir quem podia ou não se candidatar. O recall, ou retomada de mandatos a qualquer momento por iniciativa popular, viria mais adiante para quebrar resistências. O objetivo era “manter a opinião pública sempre em posição de ascendência sobre as instituições de representação para amarrá-las concretamente à vontade popular”.

Por aquela mesma altura o jornalismo americano passou por uma revolução com o surgimento da revista McClure e seu jornalismo investigativo em profundidade revolvendo a sujeira (muckraking) da política, desmascarando os robber barons e seus métodos de ação e indicando os remédios contra a institucionalização da mentira. A matéria de Ida Tarbell sobre Rockefeller e seus esquemas com as ferrovias, que tinham “departamentos de política” exatamente semelhantes em métodos e propósitos aos das nossas odebrechts e JBSs, tornou-se um ícone desse novo jornalismo. E a circulação saltou para a casa dos milhões de exemplares.

Em 1901, o presidente McKinley é assassinado antes da posse e Theodore Roosevelt – um outsider que entrara para a política para desafiar “o sistema”, fizera fama em Nova York desvendando grandes esquemas de corrupção e, por ter sempre desafiado os velhos caciques republicanos, havia sido “contemplado” com a Vice-Presidência, numa manobra para tirá-lo da eleição presidencial de 1900 – torna-se presidente da República e passa a “governar com os jornalistas”, abraçando amplamente as reformas e procurando, com inédito sucesso, coordenar com eles a comunicação de suas investidas nesse campo.

São Francisco e Los Angeles tinham feito os primeiros ensaios e houve outras experiências em nível municipal, mas o movimento toma impulso decisivo ao se transformar em bandeira de luta do governo nacional. Em 1902 o Estado de Oregon inscreve em sua Constituição os direitos de iniciativa e referendo. Ali se estabeleceu o modelo de coleta de assinaturas que ficou nacionalmente conhecido como o “Sistema do Oregon”: 8% do eleitorado para qualificar uma lei de iniciativa popular e 5% para forçar um referendo. Com eles nas mãos, os eleitores foram construindo por ensaio e erro todo o resto da receita. Entre 1902 e 1913, 108 leis de iniciativa popular foram a voto no Oregon. A primeira delas para instituir as primárias diretas. Até 1915, quando a 1.ª Guerra Mundial esfriou o movimento, outros 15 Estados haviam adotado o modelo. A Califórnia foi o primeiro a incorporar o recall, em 1911. Isso acabou com as resistências e consolidou a revolução.

Hoje nenhum servidor público ou representante eleito, aí incluídos os juízes, é estável em seu cargo ou em seu mandato e tudo é passível de ir a voto direto nos EUA. Seja tomando carona nas eleições do calendário normal (a cada dois anos, incluindo legislativas e majoritárias), seja por meio de eleições especialmente convocadas, leis de iniciativa popular, veto a leis dos Legislativos, cassação de cargos e mandatos são diretamente decididos pelos eleitores. Na última eleição para presidente a média nacional de quesitos nas cédulas foi de 72. Impostos, emissão de dívida, gestão de escolas públicas, temas ambientais, leis sobre usos e costumes, direitos do consumidor, regulamentos de negócios, salário mínimo, alimentação e agricultura, legislação penal, tudo pode ser proposto ou desafiado mediante coleta de assinaturas ou mecanismos automáticos impondo esse procedimento aos próprios Legislativos em assuntos sensíveis nos municípios e nos Estados americanos. Há mais de uma dúzia de modelos diferentes de ballot measures ou “medidas para votação” passíveis de ser incluídas na cédula da próxima eleição para um “sim” ou “não” dos eleitores.

Foi isso que pôs a política jogando a favor da nação, reduziu drasticamente a corrupção e fez dos norte-americanos o povo mais rico e mais livre da História da humanidade.”

--------------
AGD comenta:

Ontem, neste mesmo espaço, falava sobre ideologia e sobre regimes políticos. Depois encontrei a matéria do Fernão Lara Mesquita, acima transcrita, e não tive com não ligar uma coisa com a outra. Pois o que a matéria diz é que se tivermos criatividade e vontade de agir no campo político as soluções aparecem.

Também, lembrei da operação Lava Jato como um fator importante (tal qual a luta contra os “robber barons” mencionada) para nos permitir mudanças no nosso comportamento. Mas, mantendo a comparação com os Estados Unidos, o nosso país talvez não possa fazer o mesmo, em termos de participação popular, porque, esquecemos, nos últimos tempos o valor do trabalho para obtenção do pão de cada dia.

Trabalhou-se muito nos direitos do povo, sem falar em deveres, mudando a velha música do Luiz Gonzaga que dizia que “uma esmola, ao homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”, através de benesses que parecem caídas do céu, mas são fornecidas por um Estado perdulário em direitos e mitigado em exigências de deveres.

Eu não conheço de perto a experiência americana de participação popular na vida política americana, mas, não é preciso tanta informação para saber que eles nos dão de muito na matéria. Basta lembrar o que lemos acima que não há cargos no setor público americano que não possam ser motivo de influência do poder popular, para ver o seu avanço.

Quanto poderíamos ter economizado de esforço e recursos com um sistema como o “recall” (retomada do cargo) adotado nas cidades americanas. Já pensaram na possibilidade do povo poder tirar do emprego, a qualquer tempo, um “juiz Lalau” ou “um governador Pezão”?


É bom refletir sobre estas coisas neste período de crise, pois é neles em que se tornam visíveis nossas necessidades e possibilidades de resolvê-la. Reflitamos, então!

terça-feira, 25 de julho de 2017

Em causa própria




“Em causa própria

Por Eliane Cantanhêde

O Congresso Nacional já está levando palmadas da Lava Jato, broncas da opinião pública e notas baixas nas pesquisas, mas aproveita o recesso para fazer mais peraltices. Como o Estado vem antecipando, os parlamentares tentam usar a reforma política e a reforma do Código Eleitoral para favorecer os alvos da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal.

Um dos exemplos mais lustrosos é a tal “emenda Lula”, que aumenta de 15 dias para oito meses o prazo em que os candidatos às eleições já de 2018 não podem ser presos, a não ser em flagrante delito. Oito meses é uma eternidade. Principalmente para cometer crimes impunemente.

Quem assume a ideia é o relator da comissão especial da reforma política, deputado Vicente Cândido (PT-SP), e fica evidente a intenção de garantir duas blindagens para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o único nome que os petistas de fato consideram para 2018. De um lado, dificultaria a prisão de Lula. De outro, garantiria a sua candidatura.

O argumento de Vicente Cândido é realista: caso aprovada, a mudança não beneficiaria apenas Lula, mas dezenas, ou centenas, de candidatos que estão com a PF, o MP e a Justiça no cangote. Logo, ele prevê um acordão para a votação em plenário. E nós, o que prevemos? Que haverá dezenas, ou centenas, de candidatos pintando e bordando por aí, ilesos.

A outra bondade coletiva gestada no Congresso, conforme o Estado de ontem, é numa outra comissão, a do Código de Processo Penal. Se nunca aprovou e até articulou estraçalhar as dez medidas anticorrupção sugeridas por procuradores, a Câmara agora tenta partir para cima de três pilares da Lava Jato: a delação premiada, a prisão preventiva e a condução coercitiva.

O relator é o deputado João Campos (PRB-GO), que pretende apresentar seu parecer em agosto, para votação em plenário já em outubro. Isso, claro, é só uma esperança dele e dos interessados diretos, que temem justamente as delações, prisões e conduções coercitivas. É improvável, porém, que haja clima para passos tão ousados na contramão da opinião pública.

Além dessas mudanças, há outras no Congresso sob encomenda para favorecer os próprios parlamentares. Exemplo: o projeto de parcelamento e perdão de dívidas tributárias e previdenciárias. Pois não é que os deputados e senadores que vão votar esse negócio de pai para filho devem R$ 532,9 milhões à União? Se isso não é legislar em causa própria, é o quê?

Essas iniciativas caracterizam o típico corporativismo, ou espírito de corpo, já que a maioria dos partidos (incluindo todos os maiores) e grande parte da Câmara e do Senado são atingidos pela Lava Jato e temem as novas delações que estão sendo negociadas principalmente com a Procuradoria-Geral da República, mas também com a Polícia Federal – caso do publicitário Marcos Valério, pivô do mensalão.

Não custa lembrar que iniciativas anteriores para livrar políticos ou para limitar as investigações não deram certo. A gritaria da sociedade foi mais forte e os parlamentares foram obrigados a voltar atrás na descaracterização das dez medidas anticorrupção, na nova lei de combate ao abuso de poder e na inclusão de parentes de políticos nas benesses da repatriação de recursos ilegais no exterior.

Ou seja, por enquanto, as ideias das comissões são apenas ideias, rascunhos que podem ser muito bem alterados antes de ganharem corpo e serem submetidos aos plenários para virarem lei. E não serão aprovadas se a sociedade, escaldada que está, ficar alerta e de olho vivo. Mais uma vez, é melhor prevenir, enquanto são só projetos, do que chorar sobre o leite derramado, depois da aprovação no Congresso.”

--------------
AGD comenta:


Sem comentários

Direita, Esquerda ou D. Pedro III?




“A miséria da esquerda
        
O Estado de S. Paulo

Os intelectuais petistas começam a admitir em voz alta aquilo que seus colegas militantes apenas murmuravam aqui e ali: a esquerda - como eles a entendem - é totalmente dependente de Lula da Silva para existir como força eleitoral. Sem o demiurgo petista e suas bravatas demagógicas, reconhecem esses amuados ativistas, os partidos do dito “campo popular” dificilmente serão capazes de comover os eleitores com seu discurso estatizante, baseado na puída tese marxista da luta de classes. Ou alguém acredita que Dilma Rousseff, que se julga herdeira de Leonel Brizola e seu esquerdismo terceiro-mundista, teria sido eleita e reeleita presidente da República não fosse seu padrinho?

“Impedir o PT de ter um candidato competitivo a um ano do pleito equivale a banir a esquerda da vida política”, sentenciou o professor de História da USP e autor do livro História do PT, Lincoln Secco, em recente entrevista ao Estado. Segundo Secco, “a esquerda não tem plano B sem o Lula”. Mais do que isso: o professor petista considera que, “sem apoio do Lula, nenhum candidato da esquerda se viabiliza”.

O professor Secco não está sozinho nessa avaliação. A sentença do juiz federal Sérgio Moro que condenou Lula a mais de nove anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro teve o condão de fazer com que outros militantes manifestassem sua preocupação com o futuro eleitoral da esquerda, depois de mais de uma década de bonança petista. Para essa turma, é preciso começar a encarar a vida sem Lula na cédula de votação em 2018.

O mais curioso desse diagnóstico é que Lula da Silva jamais foi de esquerda. Sua carreira como líder sindical e depois como político se notabilizou pelo oportunismo desbragado. “Eu nunca fui um esquerdista”, disse o chefão petista em 2006, quando era presidente, buscava a reeleição e tinha de convencer o mercado de que nada mudaria na condução prudente da política econômica. Já quando precisa insuflar a militância esquerdista, Lula não tem dúvida em bradar, como fez no mais recente congresso do PT, que é necessário fazer “a esquerda voltar a governar o País”. Cabe aos ingênuos escolher em qual Lula se deve acreditar.

Diante da perspectiva muito concreta de passar os próximos anos na cadeia, Lula da Silva parece ter intuído que o melhor a fazer no momento é travestir-se de esquerdista, vociferando palavras de ordem contra o capital, a imprensa e a classe média, de modo a eletrizar os tolos que ainda se dispõem a defendê-lo, a despeito de todas as evidências. Sua intenção é óbvia: transformar seu julgamento em um caso político, como se sua condenação judicial, acompanhada de carradas de provas, fosse uma ação da “direita”, interessada em destruir as chances eleitorais da “esquerda”.

Essa encenação para engambelar esquerdistas bocós conta com a participação ativa da cúpula do PT, ciente, é claro, do risco de ver o partido encolher drasticamente nas próximas eleições caso Lula não possa concorrer. No mais recente encontro do Foro de São Paulo - o notório convescote de partidos esquerdistas da América Latina que acabam de se reunir em Manágua -, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, disse que “a direita reacionária e golpista não descansa” em seu intento de “destruir o PT e impedir que o maior líder popular brasileiro, Lula, seja nosso candidato nas eleições presidenciais de 2018”. Segundo a petista, “mais do que nunca necessitamos de um governo de esquerda de volta ao nosso país”. No mesmo discurso, sem ruborizar, a senadora aproveitou para se solidarizar com as ditaduras da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua.

A estratégia petista de vincular o destino de Lula ao da esquerda - não só brasileira, mas latino-americana - parece estar funcionando bem, a julgar pelo lamento dos esquerdistas que já se consideram órfãos do chefão petista. Isso só comprova a miséria do pensamento dito “progressista” no País. Afinal, se essa esquerda, para existir, depende de um rematado demagogo condenado por corrupção, então é mesmo o caso de considerá-la moralmente extinta.”

--------------
AGD comenta:

Aqui no Brasil, a discussão entre quem é de esquerda e quem é de direita, perdeu o sentido, nos últimos tempos, por só conhecermos a esquerda. Com a profusão de partidos que não são nem de um lado nem do outro, e sim, do dinheiro, não há ideologia que aguente.

Ainda bem que esta discussão está voltando e, pelo menos entre as pessoas esclarecidas, já há a sensação do que se chamou de esquerda no Brasil, nos últimos tempos, não passa de um tentativa de manter o poder a qualquer custo, quando nele se instala.

O projeto do PSDB de ficar mais 20 anos no poder no tempo de FHC, foi o mesmo seguido pelo PT na época Lula, só que estes queriam ficar para sempre. Hoje, já se vislumbra a possibilidade de subirem pessoas ao poder que se dizem de direita, sem medo e com possibilidade de conquistar votos.

Entre nós, não vislumbramos ainda a positividade da alternância de poder de ideias diferentes, e isto se deve a nossa formação histórica e cultural como Império. Vivemos sempre à procura de um imperador para ser D. Pedro III, e confesso que a ideia não é tão má quanto a introdução de outros regimes como parlamentarismo para o qual não estamos preparados, e pela nossa índole, nunca estaremos.

Penso eu que, num regime parlamentarista puro, nossa tendência seria ter um Primeiro Ministro por dia, o que seria uma catástrofe maior do que este presidencialismo que temos, e que agora estamos vendo quanto mal poderá fazer.


Enfim, na esquerda ou na direita, temos que ter um regime político em que possamos tocar as coisas do Estado (no seu mínimo possível) e vivermos como sociedade civilizada.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Venezuela: Devemos botar a "barba de molho"?




“De rabo preso com Maduro

Por Mary Zaidan

Gente que dorme e acorda na porta dos mercados para comprar comida que acaba antes de a fila andar. Falta de remédios, ataduras e até de soro fisiológico. Famílias que vasculham lixos e assam animais de estimação para servir no jantar. Mais de uma centena de mortos pela repressão em manifestações contra o governo. Essa é a Venezuela, cujo regime e seu ditador, Nicolás Maduro, receberam apoio incondicional do PT e PCdoB, e parcial do PDT, signatários da resolução final da 23ª reunião do Foro São Paulo, realizada na Nicarágua.

A solidariedade ao regime totalitário de Maduro, expressa em viva voz pela presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman, há uma semana, na abertura do Foro, causa repulsa diante da tragédia humanitária do país vizinho. Tão grave que não comporta qualquer tipo de defesa ideológica.

E, ao que tudo indica, ideologia está longe de ser de fato a inspiração para as falas.

Os discursos petistas sempre deram trela ao faz de conta que o ex-presidente venezuelano morto, Hugo Chávez, chamou de socialismo do século 21. Mas, no ver e crer, as identidades do PT com essa turma se consolidaram em outras searas.

Chávez, o gênio que conseguiu parir um golpe sobre si para se tornar presidente, obteve do Brasil do ex Lula tudo e muito mais do que podia esperar. Traduzindo em miúdos, usufruiu de trocas maravilhosas, favores envolvendo fortunas – US$ 98 milhões só na conta de corrupção da Odebrecht, declarados pela empreiteira em oitiva à promotoria dos Estados Unidos.

Muitas transações ainda carecem de explicações, se é que elas existem.

Em um país povoado por denúncias cotidianas, poucos se lembram da festa patrocinada por Lula e Chávez para lançar a pedra fundamental da construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que teria 60% dos US$ 2,4 bilhões orçados para a sua construção custeados pela PDVSA, estatal petrolífera venezuelana.

Isso foi em 2005. Dois anos depois, Chávez se apropriou dos ativos da Petrobrás na Venezuela e, mesmo sem ter colocado um único centavo, reclamava do atraso das obras pernambucanas. Em 2013, Dilma Rousseff anistiou as dívidas da Venezuela com a obra, que, nesta altura, já custava cinco vezes mais: US$ 13,4 bilhões.

Uma aventura de comunhão bolivariana com custos e prejuízos fenomenais para o Brasil, que jamais serão pagos. Ainda inconclusa, a refinaria já consumiu US$ 18 bilhões dos brasileiros e produz menos da metade da previsão inicial de 230 mil barris de petróleo/dia.

Chávez morreu em março de 2013, sem ver as consequências desastrosas da gastança populista que promoveu nos anos em que o petróleo batia recordes de preço no mercado mundial.

Assim como Lula e depois Dilma, ele se regozijava de ter eliminado a miséria. Em 2011, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) chegou a divulgar que o chavismo reduzira 50% da pobreza do país. Cinco anos depois, o percentual de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza atingiu 81%, embora os dados manipulados pelo regime apontem 18,3% de redução da miséria em 2016.

Além da mentira quase infantil das estatísticas oficiais, facilmente desmanteladas pelo cotidiano -- um salário mínimo venezuelano consegue comprar comida para apenas três dias, isso quando encontra produtos à venda --, a ditadura Maduro luta contra muitas outras frentes. E a pior delas não é a oposição formal, a qual ele tenta derrotar a tiros, literalmente, e com a convocação surreal de uma Constituinte, cujo objetivo é mantê-lo no poder.

Está tendo de enfrentar as vítimas do populismo subsidiado pela ignorância e custeado pelo petróleo, sem ter fartura e muito menos inteligência para fazê-lo.

Abusa da repressão, das milícias armadas, promove a matança, estimula uma guerra civil. Ainda assim tem apoio da esquerda brasileira, irrestrito quando se trata do PT.

Talvez porque os rabos do presidente venezuelano e do PT estejam enrolados em uma trama de difícil equação para ambos.

Maduro foi apontado por Mônica Moura, mulher de João Santana, marqueteiro de Lula e de sua pupila, como pagador de pacotes de dinheiro ilícito, em espécie, para remunerar o trabalho da dupla durante a campanha vitoriosa da Dilma de Chávez. Tudo com conhecimento e aval do governo petista.

O PT de Lula -- que gravou vídeo em favor de Maduro na disputa de 2013, que se arvorou a falar em nome do “povo brasileiro” ao defendê-lo, em abril, quando a chancelaria nacional propôs a suspensão da Venezuela do Mercosul, e que agora se solidariza e apoia a realização da Constituinte pró-Maduro --, é cúmplice e parceiro da ditadura venezuelana.

De um lado, usa a crença bolivariana para alimentar a fé cega dos seus. De outro, busca evitar a derrota fatal de um companheiro -- não de armas, mas de “malfeitos”--, que pode lançar ainda mais lama nos 13 anos de governos petistas. Não importa quantos mais Maduro mande prender ou matar.”

---------------------
AGD comenta:

Não é possível se informar sobre a situação do nosso vizinho, a Venezuela, sem tentar imaginar o que seríamos se o PT tivesse continuado no poder. Quando me informo chego até a xingar mais o Joesley por ter delatado o Temer e criar esperança para que o Lula ainda fique gritando, para cada vez menos pessoas, por “Fora Temer” e diretas já visando se locupletar da situação para volta ao poder.

Posso até conjecturar que foi o impeachment da Dilma que nos salvou, e que o Temer e o Eduardo Cunha tiveram uma grande participação nisto. E sentir até um pouco de gratidão quando esquecemos, por uns instantes, seus podres.

O nosso problema agora é o futuro não tão longínquo, se voltaremos ou não a correr o risco de ‘venezuelização’. Esta, talvez, fosse a maior de nossas possíveis tragédias. Ainda não fugimos totalmente do pesadelo que poderia nos abater, se, de alguma forma o PT e apaniguados voltassem ao poder.

Não penso nem numa, cada vez mais impossível, eleição de Lula, porém, como diziam lá em minha terra, “quem tem, tem medo!”. O Lula já elegeu um poste nacional, a Dilma, e um poste municipal, o Haddad, lá em São Paulo, além de outros postes pelo Brasil afora, mesmo estando distantes das campanhas.

O “povo”, que coloco entre aspas por ser aquele que é desinformado de tudo, a não ser do endereço de uso do Bolsa Família, ainda não se livrou de Lula como seu salvador, e, qualquer padre que tente dizer que o verdadeiro Salvador, é Jesus! E, este é o temor. Pois, a classe média e informada, quer é distância do Lula, e por isso a Marilena Chauí a odeia tanto.


O texto da Mary Zaidan mostra o apoio que ainda o Maduro tem na Venezuela e que está levando o país a continuar com a ditadura chavista mesmo que o país viva uma guerra civil. Por isso, deveremos aqui sempre termos a “barba de molho”, ou, “o barba de molho”, quando pensamos na barba do Lula.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Briga de cachorros grandes




“Os partidos se mexem

POR MERVAL PEREIRA

A disputa pela dissidência do PSB entre o DEM do presidente da Câmara Rodrigo Maia e o Palácio do Planalto, com a interferência pessoal do presidente da República Michel Temer demonstra, por um lado, que o governo tem apoiadores até mesmo nos partidos de oposição, assim como tem opositores em partidos da base, como o PSDB.

Mostra também que a desconfiança entre Temer e seu presuntivo sucessor, o presidente da Câmara, está instalada, e nada garante que o jantar de ontem resolverá a questão. O PSB presidido por Carlos Siqueira estava em ação para retirar o poder político de seus dissidentes, que continuam dispostos a apoiar o presidente Temer.

Onde havia diretório provisório houve intervenção da direção nacional, e negociações foram abertas com a Rede, de Marina Silva – que já foi a candidata do partido na eleição de 2014 com a morte de Eduardo Campos, de quem era vice – para a formação de um bloco de atuação na Câmara. Esse bloco permitiria ao PSB a continuar atuando sem restrições, mesmo perdendo de 10 a 12 deputados, como se prevê.

 Paralelamente, a direção nacional do PSB estabeleceu contatos com o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa para tê-lo como candidato à presidência da República no ano que vem. Barbosa já havia sido contatado também por Marina, mas a conversa não chegou a aprofundar-se, embora as informações sejam de que a presidente da Rede gostaria de contar com ele e com o também ex-ministro do Supremo Ayres Britto em seus quadros.

A maioria da bancada da Câmara do PSB está contra a permanência do presidente Temer, e os dissidentes minoritários começaram a buscar outras legendas, tendo o DEM surgido como alternativa viável por ter sido a legenda de um dos líderes da dissidência, o deputado Heráclito Fortes, e por ser da base aliada do governo Temer.

Mas a negociação foi vista por assessores de Temer como uma manobra para fortalecer a posição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com vistas à sucessão de Temer. Por isso o presidente chamou para um café da manhã alguns dos deputados do PSB, entre eles a líder Tereza Cristina, que logo em seguida foi para a casa de Rodrigo Maia.

O movimento de Temer foi criticado por todos os partidos envolvidos. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que é “surpreendente” que um presidente da República deixe seus afazeres para tratar de assuntos partidários. “Michel Temer está parecendo mais um chefe de partido do que um chefe de governo." O que obrigou o líder do governo, Romero Jucá a garantir por twitter que o presidente da República não faz política partidária.

Já do lado do DEM, as críticas foram duras, pois o partido é um dos principais aliados do governo e considerou um ato de traição a tentativa de Temer de levar os dissidentes para o PMDB.

Todo esse imbróglio é demonstração de que o governo está usando todas as armas e o conhecimento que o presidente da República tem da organização das forças políticas para neutralizar o menor sinal de que possa haver traição na votação da aceitação do processo contra ele.

 Essa movimentação em pleno recesso parlamentar indica também que as forças políticas estão se deslocando de acordo com interesses visando a próxima eleição, em sintonia com suas bases eleitorais.

O PSB está majoritariamente oposicionista, especialmente porque no nordeste a força do lulismo ainda é muito grande, e os dissidentes, que não são ligados à esquerda, procuram se acomodar em legendas mais favoráveis a seus interesses imediatos.

A volta do recesso vai previsivelmente aumentar mais ainda essa acomodação partidária, e por isso mesmo é mais provável que a votação fique para setembro, pois o governo teme que fazê-la logo na volta dos deputados de suas bases pode afetar negativamente o resultado.”

-------------
AGD comenta:

Esta é chamada “briga de cachorros grandes”. Pelo menos dois deles. No fundo no fundo, todos brigam para fugir do canil com barras de ferro.  

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Lula, caudilho pendular




“Lula, caudilho pendular

Por Hubert Alquéres

Caudilhos são dados a movimentos pendulares. Deslocam-se à direita ou à esquerda. Menos por ideologia, mais por conveniências. Perón foi mestre nessa arte. Apoiou-se nos Montoneiros e outros agrupamentos da esquerda peronista para voltar ao poder. Mas quando o conseguiu governou mesmo foi com Lopes Regla, El Brujo, um dos oráculos da AAA - Associação Argentina Anticomunista.

Getúlio Vargas também sabia se movimentar ora para um lado ora para outro. O Vargas que namorou o fascismo de Mussolini, entregou Olga Benário aos nazistas e botou comunistas na cadeia, fez um giro de 180 graus quando os ventos sopraram noutra direção. Bandeou-se para o lado dos países aliados, na Segunda Guerra, e postou-se ao lado do seu arqui-inimigo Luiz Carlos Prestes.

O próprio Prestes, um caudilho com ideologia, também fazia suas guinadas. Em nome da “união nacional” e do queremismo getulista, mandou os operários apertarem os cintos  -- fazer greve, naquele momento, era impatriótico. Dois anos depois levou o PCB a enveredar pelos caminhos do esquerdismo após a cassação do registro do seu partido.

Seria injustiça histórica com Perón, Getúlio e Prestes colocar Lula no mesmo patamar. Até porque os motivos que levam o pêndulo de Lula a se movimentar mais uma vez, agora à “esquerda”, são de natureza diferente.
Nenhum dos três caudilhos foi condenado pela Justiça por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Em comum, apenas o fato de Lula repetir agora a rotação que vem exercitando desde a fundação do Partido dos Trabalhadores.

Na puberdade petista, Lula disputou e perdeu três eleições com uma frente de esquerda e com um programa radical. Viu que por aí jamais se elegeria presidente. Tendo José Dirceu como estrategista, ampliou seu arco de alianças na direção do empresariado e de políticos tradicionais.

As alas mais esquerdistas do PT torceram o nariz, mas engoliram os novos parceiros, na crença de que o “Lulinha, paz e amor” era apenas um movimento tático a ser deixado de lado com a posse do morubixaba petista.

Ledo engano, o pêndulo de caudilho inflexionou mais à direita, rendendo-se a uma política econômica ortodoxa. Apropriadamente, o economista Samuel Pessoa caracteriza o período 2003-2006 como “Malocci”, para definir uma linha de continuidade entre a política de Pedro Malan e a de Antônio Palocci. E de fato foi assim. Como disse o economista, “o governo Lula, nos bons momentos, não se distinguiu do de FHC”.

O movimento pendular iria na direção contrária, por razão de sobrevivência, com o estouro do escândalo do mensalão. De olho na reeleição, abandonou paulatinamente os bons fundamentos econômicos, a quem tinha aderido por questão de conveniência.

A “inflexão à esquerda” na economia não teve correspondência na política. Ao contrário, o modelo de compra de deputados via mensalão foi substituído por um tipo de presidencialismo de coalizão calcado no patrimonialismo e fisiologismo, métodos secularmente utilizados pelas oligarquias brasileiras.

O pêndulo Lula era isso: “populista na economia, “direitista” na política”.

A mais recente inflexão era previsível desde o impeachment de Dilma Rousseff. Deslocado do poder em decorrência de ter patrocinado a maior crise econômica-social e o maior escândalo da História do país, o lulismo volta no tempo para resgatar a política de classe contra classe e de frente de esquerda. É com ela que pretende se reencontrar com suas “bases populares”.

A bola já tinha sido cantada na carta de 44 páginas que José Dirceu, ainda preso, escreveu no início de maio: “Nada será como antes e não voltaremos a repetir os erros. Seguramente, voltaremos com um giro à esquerda para fazer as reformas que não fizemos na renda, riqueza, poder, a tributária, a bancária, a urbana e a política. Não se iludam vocês e os nossos. Não há caminho de volta. Quem rompeu o pacto que assuma as consequências”.

Indiretamente, o petismo confessa que tinha um pacto com as elites e, ingenuamente, atribui à traição das mesmas elites como causa de sua hecatombe. A narrativa do golpe e da condenação política de Lula serve para justificar a recaída jacobina do PT, prestando-se ainda para coesionar as fileiras internas. Face à “ameaça externa”, a autocrítica não pode ser feita para não se fazer o jogo do inimigo, segundo Gleise Hoffman.

Isto explica porque, apesar de toda a lambança que patrocinou, o Partido dos Trabalhadores vive momento de grande coesão interna. A inflexão à esquerda já era o clamor de muitas de suas bases, particularmente dos chamados movimentos sociais. O pêndulo de agora atende a esse pleito.

Há uma razão maior. O lulismo sem Lula não tem futuro. Sem ele, o PT tende a ser uma força residual. Para a sobrevivência de todos, é necessário manter o mito, martirizá-lo, para que, na pior das hipóteses, os petistas, tais quais os seguidores de Antônio Conselheiro, percorram os grotões do sertão preconizando a volta de Dom Sebastião.”

------------
AGD comenta:


Sem comentários

quarta-feira, 19 de julho de 2017

O contubérnio da política brasileira




“Os surrealistas Lula e Temer

Por Flávio Tavares

O termo castiço é contubérnio, ou a familiaridade para delinquir e enganar. Dele brotaram ou convergiram outros similares, há muito tempo (e hoje mais do que nunca) em moda no Brasil: conluio, conjura e tudo o que esconda o crime dentro de si.

Entre nós, o crime está à mostra. O processamento do presidente Michel Temer pelo Supremo Tribunal e a condenação do ex-presidente Lula da Silva a nove anos e meio de prisão, por exemplo, têm a mesma origem e surgem do mesmo sigiloso contubérnio, que até no som já é explosivo. Tanto o caso de Lula (que se proclama a pessoa “mais honesta do Brasil”) quanto o de Temer (que se diz “a caravana que passa”) surgem do conluio que tenta disfarçar ou ocultar o delito.

No caso de Lula, o detalhe financeiro que levou à condenação é quase insignificante – uns R$ 3 milhões – diante das centenas de milhões de dólares dos roubos apurados na Lava Jato e outras estripulias. O apartamento no Guarujá, porém, desponta como o rabo do gato que surge pela fresta da porta e revela os multimilionários ninhos de rato gerados no conluio entre grandes empresas e o poder enquanto ele estava no poder.

Algo similar acontece com Temer. O amistoso diálogo com Joesley Batista revela uma intimidade em que as frases ou ideias nem precisam ser concluídas para se entenderem. Basta que um inicie e o outro já complementa.

Quem imaginaria um presidente da República, em conversa com velho comparsa na calada da noite, mandando que continue a entrar, no futuro, pelos fundos do palácio para não ser identificado?

“Sempre pela garagem, viu?”, advertiu Temer a Joesley Batista, em sussurro, ao final da conversa daquele mês de março, hoje estopim de uma explosão inimaginável: o presidente da República investigado pela Polícia Federal e denunciado ao Supremo Tribunal pelo procurador-geral, dependendo apenas da licença dos deputados.

Quem imaginaria alguém como Lula, que há pouco perdeu a esposa, culpando (de fato) a mãe dos próprios filhos pelo obsessivo (ou mesquinho) interesse num apartamento triplex de frente para o mar?

Lula condenou-se a si próprio naquele depoimento ao juiz Sergio Moro, meses atrás. O Lula solto e falastrão sumiu. Surgiu um reticente, incapaz de ocultar que inventava e que, ao inventar, mentia. E se viu que tudo aquilo era apenas o rabo do gato pela fresta da porta...

Lula terá sido tão ausente da função de presidente da República que o assalto à Petrobrás prosperou de forma gigantesca em oito anos de seu governo? Ele nunca soube de desvios na maior empresa estatal, nem desconfiou que o então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) estivesse envolvido em estrondosas falcatruas?

Temer tenta se livrar de ser julgado pelo Supremo. Compôs com servos fiéis a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados para que, a partir dali, se estanque o processo. Ora, se nada daquela aparente intimidade criminosa com o mafioso Joesley for verdadeiro, por que evitar a ampla atuação do Supremo? O execrável é que a fidelidade tenha raízes em nova orgia de liberação de verbas de “emendas ao Orçamento” para os currais eleitorais, ou nomeações no Dnit e noutros setores com polpudas verbas.

Temer continua com todos os poderes de governança da função presidencial. Mas já não é o chefe de Estado modelo de sensatez, equilíbrio e serenidade, acima de pequenezes, apto a mediar as disputas e decidir com isenção. Ao contrário, alinhou-se com o lado nebuloso e dele não se desgruda. Seus ministros mais íntimos e mais poderosos são réus na Justiça. E alguns ex-ministros e auxiliares estão presos.

Que bizarro modelo pode ser alguém que manda um emissário “de estrita confiança” receber uma mala com R$ 500 mil?

O jeito ousado e a cara de atrevida inocência dos políticos, empresários e figurões que desfilam pelas investigações fazem com que tudo pareça surgir de um romance surrealista de terror, imaginado por um ficcionista genial, mas doentio.

Os envolvidos (e são centenas) agem com a desenvoltura e naturalidade de personagens inventados, vestidos com fantasia grotesca, tal qual uma caricatura fatídica. E tão burlesca e terrorífica que ninguém se animaria sequer a esboçar um rabisco, por ir além do razoável, só admissível na literatura fantástica. Agora, porém, a crua realidade é que soa como fantástica, fruto da imaginação e da fantasia, quando apenas retrata o cotidiano.

A crise política imita um terremoto: tudo se abala ou despenca na superfície, mas, em realidade, as fissuras estão lá no fundo da Terra. Escondidas numa complicada geologia, são elas que provocam o horror.

Nosso terremoto dos últimos anos escancara, agora, o criminoso poder dos grandes figurões da política e da economia. Hoje conhecemos o rosto profundo da própria crise, tão nosso como um samba do Adoniran Barbosa, mas até aqui oculto e escondido – e que não nos amimávamos sequer a cantarolar.

Desde 2014 a Lava Jato e outras lavagens bilionárias, como a do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, do PMDB, ou menores, como a do Metrô paulistano (com o PSDB à frente), revelam o monstro voraz que domina a área partidária. Quatro ex-presidentes da República vivos (Sarney, Collor, Lula e Dilma) aparecem envolvidos em algo ou são suspeitos de operações irregulares, em maior ou menor grau. Lula acaba de ser condenado no menor dos muitos enredos em que aparece ou aparecerá. As irregularidades do tempo de Fernando Henrique só não serão avaliadas porque prescreveram judicialmente.

E falta ainda penetrar no emaranhado dos mais de 30 partidos, de fato meros grupelhos que se alugam ou se vendem para ampliar o tempo de rádio e televisão dos candidatos a cargos majoritários, como se democracia fosse isso – mera contagem de votos!”

------------
AGD comenta:

Eu já tinha lido a palavra “contubérnio”. No entanto, sempre ficava em dúvida sobre seu real significado. O texto acima transcrito, do jornalista Flávio Tavares, até que enfim me esclareceu. E só pude concluir que a história contemporânea do Brasil, e isto abrange a chamada Nova República, é um verdadeiro contubérnio, onde os políticos vivem na maior mancebia.

Basta ler os jornais e verificar que esta história é contada por metros de corrupção, que é a palavra da moda. O que resta perguntar é o porquê das coisas. E sei quanto é difícil explicar a história quando a vivemos.

Daqui a 200 anos, se o Brasil continuar existindo, e tivermos um História do Brasil que cubra este período, o que os livros dirão? Quem seria o maior vilão dela? O Lula ou o Temer? Sem passar tantos anos assim eu diria que pode haver um empate. Mas, se perguntamos qual foi o partido político mais corrupto da história do país, todos responderão, em uníssono: PT.

Afinal de contas o Temer foi um criação do PT, tanto como a Dilma, que são crias do Lula. Isto é inegável. Mas, deixo aqui este escrito apenas com reflexões para o futuro e com medo de ter o empate histórico outra vez entre os mais de 30 partidos que hoje nos habitam.


Então, se leram o texto anterior reflitam sobre nosso contubérnio.