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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Direto de São Paulo - Não permita Deus que eu morra...


Estação da Luz


Por Zé Carlos

Ainda na grande metrópole brasileira, São Paulo, que não para de me surpreender. E quando tenho um tempo, venho aqui registrar minhas surpresas, na esperança de ser útil a outros curiosos por coisas estranhas.

Começo por simples notícias do dia a dia. Um cara atropelou 15 pessoas num ponto de ônibus. Seria uma rotina nesta cidade se não fosse um número tão elevado para uma vez só. E o inusitado é que as 15 pessoas atropeladas vinham de uma igreja evangélica, e entre eles estava o pastor. Mil coisas me passam à cabeça e tenho vontade de filosofar, o que nunca foi meu hábito, apesar de admirar quem o faça. Não seria mais oportuno que estas pessoas viessem de um festa de orgia, para que pudéssemos dizer que Deus os puniu por seus deslizes? Ou será que aquele seria seu dia de sofrimento, pela vontade de Deus? Sei lá! Que Deus os proteja, e proteja São Paulo, inclusive falando com o São Pedro para que mande chuva, que ainda não chegou.

E noutra notícia simples, vejo a poesia da caça a uma Arara Azul que se perdeu e foi parar numa árvore. No momento da captura houve palmas e um alarido maior do que o da torcida do Corínthians no Itaquerão, em que ainda não fui, mas pretendo ir. Ah, se só houvesse notícias sobre Ararinhas Azuis!

E neste contraste, vou levando, em São Paulo, dentro do seu aparente caos.

No último final de semana usei os meios de transportes disponíveis para ir aos pontos turísticos, como convém a qualquer visitante de primeira viagem. Tudo aqui é história do Brasil. E a importância de São Paulo se mede assim. Praça da República, foi o primeiro lugar. Conhecer a história? Que nada! Ver a feirinha que lá se realiza semanalmente onde senti saudade da Feira de Caruaru, mais pelos bonecos de tipo Vitalino que estavam à venda, do que pelo seu formato, que é bastante diferente. Eu diria com nosso bardo maior, o Luiz Gonzaga,  também, “de tudo que há no mundo lá tem prá vender...”. Gostei, e talvez volte lá para comprar alguma coisa, de preferência, vinda de Caruaru.

Para chegar à Praça da República, pegamos um ônibus, um trem, e o metrô. Aproveitei outra vez minha condição de velho, que os politicamente corretos chamam de idoso ou que está na boa idade. Pelo menos nisto ela, a idade, é boa mesmo. Na qualidade de velho ainda não paguei um tostão no transporte coletivo daqui. E como bom nordestino, quase emigrante, para se aproveitar desta terra que era da “garoa” e agora é da “seca”, já deixei crescer a barba para não precisar nem mostrar os documentos aos motoristas. Quando algum incauto ainda me cobra a “comprovação de velhice”, eu o elogio muito, por ele me achar jovem. Como normalmente é um nordestino que pede, talvez pelo sotaque, ele libera imediatamente a catraca. E lá vamos nós, eu e minha “velha” a percorrer São Paulo.

Depois da Praça da República partimos para a Estação da Luz. Um conjunto arquitetônico que além de ser uma estação de trem bastante movimentada, contém dois pontos importantes que ninguém pode deixar de ver: A Pinacoteca do Estado e o Museu da Língua Portuguesa. Ambos imperdíveis, até mais do que a feirinha da Praça da República.

Eu já andei um pouco por este mundo de meu Deus. E onde eu vi os banheiros (também chamados de “toillete”, mictório, sanitário, cagador, etc.) mais limpos foi em Londres. Eu sempre dizia que neles poderíamos abrir a marmita e comer sem problema. Agora fiquei em dúvida, quando fui ao sanitário da Pinacoteca. Eu já ia dizendo, “coisa de primeiro mundo”, mas refreio-me, porque preciso ir lá mais vezes. É a boca torta pelo hábito de ter um dia estudado Estatística. Mas, valeu pela primeira vez. Fora isto o acervo é de primeira e poderíamos passar um dia inteiro, ou talvez dois, por lá.

No entanto, havia ainda o Museu da Língua Portuguesa que me chamava atenção por nunca ter visitado um museu de uma língua, viva ou morta. Para mim foi uma surpresa como aquilo que fazemos no dia a dia, falar português, pode ser organizado de uma forma tão prazerosa. Eu fiquei sabendo, por exemplo, de onde vêm o português que hoje falamos e me senti voltando no tempo, e vendo Cícero discursar, no que posso falar de português arcaico, como qualquer patriota falaria do Latim, além de vê que o Grego para nós é uma língua que nosso povo deixou de falar porque encontramos algo melhor. Foi um deleite.

Mas, quando pensei ter terminado aquele agradável dia, veio algo mais agradável ainda que foi uma sessão onde quase todos os autores portugueses recitavam seus trechos literários ou suas poesias. No rol entravam portugueses e brasileiros que nos deixavam em quase estado de graça, como se estivéssemos em outro mundo. Entre todos como Fernando Pessoa e seus pseudônimos, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis e tantos outros, recitando seus próprios textos ou narrados por atores e atrizes de primeira linha, o que já era um desbunde, ao final, tudo termina ao som de dois dos grandes artistas: Caju e Castanha. Seria possível não terminar dançando?

E no solo do teatro onde tudo isto aconteceu, podíamos ler tudo o que ouvimos nos 30 minutos mais agradáveis que já passei, até aqui, nesta cidade, lá estavam todas os textos mostrados durante a exibição. De um deles eu tirei uma foto e copio aqui para vocês:

"Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo."

Este poema é de Oswald de Andrade, onde ele tenta parafrasear o Gonçalves Dias em seu também famoso poema “Canção do Exílio”, eu o transcrevo aqui pelas estrofes “Não permita Deus que eu morra / Sem que volte prá São Paulo”, pois sei que há ainda muitas coisas para conhecer e aprender nesta terra.


P.S.: Quando este texto tiver sendo lido já estou de volta para Pernambuco, pois também, “não permita Deus que eu morra sem que volte para lá.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O Silêncio e a Fala




Por Carlos Sena (*)
  
A psicanálise dispõe de dois importantes fatores para se fazer ciência: o silêncio e a fala. Freud discorria muito bem acerca disso e sempre procurava lembrar a todos que "Se Pedro fala de Paulo eu passo a conhecer mais de Paulo do que de Pedro"... Isso deixa implícita a relação do silêncio como forma de bloqueio para as coisas interiores. Coisas que poderão nos libertar pela fala ou nos escravizar depois de tê-las dito diante dos seus resultados nem sempre confortantes.

Ouvir Pedro falar de Paulo resume um pouco dessa dinâmica do silêncio e da oralidade. Porque de Paulo só se saberá melhor se for dito pelo próprio, não por outrem. A lógica freudiana neste sentido é a da autonomia dos indivíduos diante de si mesmo. Porque num processo psicanalítico a gente, a rigor, não fala com o analista mas, conosco mesmo. Neste aspecto fica claro que o ser para alcançar a plenitude da vida tem que dispor de seus "deuses e demônios" na ponta da língua... Por isso Pedro se expõe mais do que Paulo, pois Paulo não pode significar para Pedro uma "ponte", uma projeção para que Pedro rompa com seus bloqueios ou boa parte deles. Nas questões de sexualidade nos parece ser comum as pessoas atribuírem a outrem um sentimento delas mas que, por falta de coragem elas não verbalizam sem dizer que não é com elas. Talvez por conta do dinamismo da nossa consciência em oposição ao inconsciente repressor. Isto resulta dizer que tanto o silêncio quanto a fala são fundamentais nos processos psicológicos e psicanalíticos. Contudo, é bom não se expor falando de alguém, pois seu interlocutor ficará sabendo muito mais de você. Porque há quem diga o que sente com palavras e outos com o silêncio. Nem sempre são processos libertadores se não forem trabalhados cientificamente. Mas, de uma coisa não se pode esquecer: a oralidade é o fundamento maior para, se bem executada, nos tornar livres das amarras morais que a sociedade nos impõe como verdade.

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(*) Publicado no Recando de Letras em 03/10/2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

MARIA HELENA.




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Todos os dias ouvia Altemar Dutra a sua musica predileta - Maria Helena és tu / A minha inspiração / Maria Helena ouvir meu coração - na sua pequena radiola em sua casa. Era a paixão de Josué. Apaixonara-se pelo nome por causa de uma sua vizinha que tinha este nome idolatrado por ele. Diariamente saia de casa e passava em frente a sua casa, detinha-se um pouco olhando para encontrar o seu vulto pelo menos no terraço. Quando notado fugia o mais rápido possível. Mas, era um amor secreto que ele mantinha nos seus pensamentos. Não tinha coragem de se declarar era tímido. Sofria quando a via em outra companhia. Ela por exemplo também não dava bola para ele. Ignorava.  Sentia-se ausente do seu olhar do seu sorriso do seu falar meigo quando ouvia em algum lugar como na Igreja ou mesmo nas matines dos domingos realizados no salão do Progresso. A cidade pequena, somente tinha um clube, um cinema, com sessões nos sábados a noite e no domingo matine para a gurizada e a noite soirée para as famílias. Certo dia tomando algumas cervejas na barraca do Seu Benedito ousou em pensamento que falaria com ela para namoro na noite de domingo por ocasião da celebração da Missa presidida pelo Padre Honório. Lá com certeza a esperaria no pátio e se declararia para ela mesmo sabendo que ela ainda não lhe tinha dado bola. Disse - é hoje ou nunca! E assim foi. Abordou com uma boa noite e pediu para acompanhar ate em casa, pois gostaria de namora-la se ela desejasse. Foi curto e grosso. Avermelhou. Tremeu. O suor escorria. E aguardou a resposta com o coração acelerado. Maria Helena tomada de surpresa com aquele apelo, disse que não, pois não gostava dele. Ausentou-se e Josué ficou triste, mas não ia desistir. O tempo passa e o amor pela sua vizinha aumentava. Como não era correspondido tentou esquecer mesmo sofrendo. Em certo dia o Josué sentiu que estava sendo notado pela Maria Helena. De vez em quando um olhar discreto, um sorriso pequeno o que trouxe um animo para ele. Deixou o tempo passar e certo dia na Igreja no mês do Rosário, aconteceu o inesperado, em um esbarrão, foi à primeira palavra dada entre os dois, depois daquele pedido de namoro. Desculpe, disse ela. Não foi nada! Começara a conversar timidamente e aos poucos foram se encontrando. Cada dia mais Josué se dedicava a Maria Helena e ela ao mesmo tempo não lhe negava carinho. Noivara. Casaram-se depois e foram viver em uma casa bastante confortável. Nasceu o primeiro filho. Jaime, o nome da avó. Tudo corria bem. A vida lhe era favorável. Trabalhava e somente pensava chegar a casa. Certo dia ela foi a uma médica, a única na cidade. Passou um exame e o resultado constatou que estava com câncer de útero. Foi aquele alarme. Aquele chororô. A apreensão tomou conta de toda família. O tratamento começou na Capital. A Quimioterapia e Radioterapia foram ministradas de quinze e quinze dias. Fizeram a cirurgia, mas a doença avançou e cada dia que passava o desamino a e moleza tomava conta de Maria Helena. A radiola não mais tocava nos dias de sábados e domingos a sua musica preferida. Dois anos se passaram e a doença não cedia ao tratamento O desespero já tomava conta de todos, principalmente do Josué que amava a cada dia a sua mulher. 12 de outubro. O tempo amanheceu nublado. A tristeza tomava conta de todos da casa. Maria Helena dormitava no seu quarto, coberta por uma manta quadriculada nas cores branca e azul. A chuva fininha começou a cair e Maria Helena já não tinha coragem de abrir a boca, somente algum ai se ouvia. A três da tarde deu-se o desfecho – Maria Helena estava morta. O choro na casa foi grande. Começou chagar os vizinhos. O Padre compareceu e fez “encomendação do corpo” na sala grande da casa sob o olhar dos presentes chorosos. Acompanhou o enterro no Cemitério São Benedito, Ao sair Josué saiu triste e entrou no primeiro boteco e por coincidência lá esta tocando a sua musica favorita – Maria Helena...

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Suicídios em Bom Conselho - 2




Por Carlos Sena (*)

Para se compreender a questão do suicídio, imprescindível se faz conhecer os estudos universalmente aceitos de Emile Durkheim. Esse eminente sociólogo francês chegou como poucos às questões gerais e específicas do suicídio. Por isso, considerando os diversos casos de suicídio ocorridos ultimamente em na cidade de Bom Conselho, em Pernambuco - minha terra, alinhavo alguns trechos dessa teoria que poderão nortear outras compreensões.

Durkheim define o suicídio como "todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”. Como se vê, esse resultado previsto pela vítima é uma ruptura dos símbolos socialmente compartilhados, conforme já me referi em outro artigo.

Para Durkheim há três tipos de suicídio:

Suicídio Egoísta:

é aquele em que o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social, ou seja, há uma individualização desmesurada. As relações entre os indivíduos e a sociedade se afrouxam fazendo com que o indivíduo não veja mais sentido na vida, não tenha mais razão para viver;

Suicídio Altruísta:

é aquele no qual o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo para se desembaraçar de uma vida insuportável. É aquele em que o ego não o pertence, confunde-se com outra coisa que se situa fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos a que o indivíduo pertence. Temos como exemplo os kamikazes japoneses, os muçulmanos que colidiram com o World Trade Center em Nova Iorque, em 2001, etc.

Suicídio Anômico:

é aquele que ocorre em uma situação de anomia social, ou seja, quando há ausência de regras na sociedade, gerando o caos, fazendo com que a normalidade social não seja mantida. Em uma situação de crise econômica, por exemplo, na qual há uma completa desregulação das regras normais da sociedade, certos indivíduos ficam em uma situação inferior a que ocupavam anteriormente. Assim, há uma perda brusca de riquezas e poder, fazendo com que, por isso mesmo, os índices desse tipo de suicídio aumentem. É importante ressaltar que as taxas de suicídio altruísta são maiores em países ricos, pois os pobres conseguem lidar melhor com as situações.

E complementa o sociólogo "e o que interessa à sociologia sobre o suicídio é a análise de todo o processo social, dos fatores sociais que agem não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo, sobre o conjunto da sociedade".

Assim, diante dessa teoria, resta aos interessados da minha terra fazer estudos - muito mais do que buscar alternativas particulares. O suicídio é social e sociológico. Talvez medidas de impacto não sirvam, porque muita coisa neste sentido está na falta dos valores sólidos da nossa sociedade. Pois só valores sólidos dão consistência interior que poderão levar os indivíduos a serem felizes. Ou, em não sendo, buscar alternativas de sê-lo, como por exemplo quebrando paradigmas e irrompendo com expectativas  sociais de alto valor coercitivo, mas de pouco valor reativo para os indivíduos.

Essa breve contribuição requer que os interessados leiam e reflitam sobre a teoria do suicídio de Durkheim.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 29/09/2014

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A semana - Operação "Lava-Jato" tenta lavar o Brasil




Por Zé Carlos

Eu sei que esta semana que passou não precisaria de filme algum para rir e até gargalhar. Bastava ver os telejornais. Como aqui previsto, teremos mais quatro anos de material humorístico com a reeleição de Dilma. E realmente, ela vem se superando para nos ajudar. Mas, sigamos com outros fatos menos risonhos, porém, risíveis.

Vejam o que um advogado disse numa tentativa heroica de defender um seu cliente da acusação dele ter recebido propina e a facilitado:

“O empresário, se porventura faz alguma composição ilícita com político para pagar alguma coisa, se ele não fizer isso não tem obra. Pode pegar qualquer empreiteirinha e prefeitura do interior do país. Se não fizer acerto, não coloca um paralelepípedo no chão”.

Seria para chorar com a classificação do Brasil como o país da ladroagem, no entanto, eu ri quando pensei em minhas andanças pelo nosso interior e vi tantos paralelepípedos nas ruas. Imaginem o montante de propina que rolou, caso o nobre causídico esteja correto. E com asfalto, seria a mesma coisa?

E por aí vai a semana, com o Brasil sendo limpo no lava-jato e cada dia mais aparecendo sujeira, que alguns ainda querem jogar para debaixo do tapete. Talvez se tenha descoberto que não há tapetes com tamanho tão grande. Embora que, hoje, o grande mote para se defender das falcatruas é o mesmo do advogado acima, e do Lula na descoberta do mensalão quanto ao caixa 2: Todos fazem, então, por que não eu? Realmente, seria muito mais cômico se não fosse tão trágico. Mas, deixemos a tragédia de lado e riamos (será este o tempo certo?) todos.

Eu rio, mas tenho medo que o Paulo Roberto Costa, o língua solta premiada, tenha me citado na delação, pois eu sou pernambucano e já há um monte de gente da nossa terrinha citado. Minha esperança, é que ele, até agora, só citou um vivo, o Humberto Costa, os outros dois já estão mortos, o Eduardo Campos e o Sérgio Guerra, que Deus os tenha. Tenho mais medo ainda dos meus homônimos, o que tenho às pencas. Certa vez passei quase um mês para provar que um ex-jogador do Santa Cruz não era eu, gritando e berrando que eu jogava muito mal e que torcia pelo Náutico. Agora sorrio do episódio, mas, não foi fácil, convencer as autoridades que aquele não era eu.

E agora, pela pouca disponibilidade de tempo para escrever, pois estou conhecendo São Paulo a jato, vamos ao nosso filme semanal, elaborado pelo UOL e abaixo posto.

A primeira parte, como não poderia deixar de ser, trata de forma jocosa da prisão de empresários que jamais sonharam com uma algema no pulso ao invés de um Rolex de ouro. Mas, o risível mesmo é a defesa orquestrada por todos os advogados: Os culpados são os funcionários públicos em particular e em geral os políticos. Era a mesma defesa de João de Manuela, ladrão de galinha famoso lá em Bom Conselho, que ao chegar na delegacia com uma penosa debaixo do braço, se defendia dizendo: “Doutor delegado, eu não tive culpa. A culpa é do dono que deixou a galinha solta, e que parecia dizer que se eu não a roubasse seria burro. Como ter a fama de burro é pior do que ter a fama de ladrão, afanei a bichinha.” Lava-Jato neles, então, inclusive mandando devolver a galinha.

E quase fui às lágrimas, de tanto rir, vendo uma reunião da Comissão de Orçamento, onde se tentava transformar déficit em superávit no último ano do governo Dilma. Ou seja, mesmo ela não aparecendo oferece material para o riso. Gastou demais, e agora quer que os congressistas digam que os gastos não foram gastos, e é tudo intriga da oposição. E haja riso, ainda mais com a própria sessão que parecia mais o Clube dos 30, lá em Bom Conselho, quando havia uma briga. Só faltou voarem as cadeiras e mesas.

E, se quiserem mesmo rir, vão até o fim do filme quando a própria Dilma, nossa maior colaboradora, declara lá na Austrália que o Petrolão é o primeiro escândalo da história que foi investigado, e que isto é bom para o Brasil, porque agora tudo vai ser diferente, e o país vai aprender a ser gente. Ou seja, desde Pedro Álvares Cabral todos prevaricaram, inclusive ela própria. Agora não. Todos os ladrões serão investigados. Sei lá, o João de Manuela deve estar se virando no túmulo, com medo de ser condenado post mortem.

Agora fiquem com o resumo do roteiro do filme do UOL e vejam o filme. Comecem bem a semana, e sorrindo, apesar de tudo.

“Enquanto a operação Lava Jato continuou revelando as sujeiras envolvendo a relação entre empreiteiras e Petrobras, parlamentares da base aliada e da oposição lavaram roupa suja no Congresso. Já a presidente Dilma Rousseff disse, na Austrália, que sujeira não tem vez no governo dela.”

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

DUAS IRMÃS




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Quem frequentou a Clube das Pás, na década de 70 conheceu Claudinha e Lucinha. Duas moças solteironas que não perdiam os bailes nas sextas feira. Tinha presença cativa e mesa reservada perto do dancing. Sabiam dançar como nunca. Tinha seus pares já prontos para os primeiros acordes da orquestra saírem patinando no meio do salão.  Nunca deu o fora a quem as fossem tirar para uma dança, aqueles que não lhe agradavam na primeira rodeada pedia para sentar alegando cansaço. Sempre bem vestidas normalmente com saias soltas e blusas coladas. Cabelo bem arrumado seguro com laque para não avoar com vento dos ventiladores. Brincos ou argolas penduradas nas orelhas. Lábios de um vermelho escarlate e unhas afiadas vermelhas. Duas o três pulseiras ornamentava os seus pulsos. Anéis grandes de pedras vistosas nos seus dedos. Sapatos de saltos baixos e solados lisos. Gostavam de tomar cervejas bem geladinha em taças, somente para elas era servido. Alegres e dançarinas chamava atenção dos notívagos ali que saem por volta das quatro horas da manhã. Nunca quiseram casar, para não ter cabresto de ninguém, gostava sim de alguns amigos para conversaram ou mesmo para uma intimidade maior, mas casar nunca, jamais, diziam rindo. Tinha muitos admiradores principalmente pelo seu jeito de dançarem. Pedrão um moreno alto, frequentador assíduo do Clube das Pás, era um grande dançarino e par que sempre estava dançando com algumas delas. Chegava ao clube já com a orquestra tocando. Olhava de um lado para outro para se situar no ambiente. O seu olhar sempre se dirigia para o lado esquerdo do salão para avistar se a Claudinha e Lucinha já esta presente. Depois se esquivando das mesas chegava ate elas que o recebia com muita festa. Vestia-se de branco, calça e camisa, sapato duas cores, branco com o bico preto, A brilhantina assentava a sua vasta cabeleira. Barba feita e bigode aparado era o “cara” da noite. Muitas mulheres desejavam estarem em seus braços para rodopiar no salão, no entanto ele tinha queda pela Claudinha, à loira que chamava a atenção. Tomava em seus braços com belos passos no salão ao som de qualquer musica que a orquestra tocasse. Horas e horas passavam agarradinho como o mundo não existisse.  Tomava assento na mesa das “meninas de idade” e quando ia pagar a conta já com várias cervejas e uma garrafa de Rum Montilha a conta já havia sido paga por elas. Faziam questão deste feito. Apareceu um homem chamado Heitor, desconhecido na área, ninguém ainda o tinha visto nas noitadas do Clube das Pás, tirou uma das meninas para dançar, a Lucinha. Ela foi à contra gosto, pois o mesmo se encontrava já alto com a bebida e tinha um suor fedorento o que não lhe agradou. Pediu para sentar, porém não foi atendida, pois o mesmo segurou o seu braço com força o que a fez dar um safanão e se soltar já bradando alta aquela agressão. Sentou-se e procurou se divertir e esquecer o que passou. De vez em quando olhava ao lado lá estava o homem que machucou o seu braço. O Heitor aborrecido esperou o termino da noite e quando ela saiu ele foi o seu encalço. Agarrou-lhe pelo braço, quando uma mão mais forte puxou-lhe e o derrubou com o grande soco no rosto. Foi aquela balburdia no final da noite. Às três horas da manhã ajuntou-se gente que estava se despedindo da noitada em frente ao Clube e o Pedrão botou o cara para correr. A policia que fazia ronda chegou, mas tudo já tinha se normalizado. A turma se aglomerou em frente às carroças de cachorro quente, que pedíamos, “me dê um quero obrar”, pois, poucos se safavam da “dor de barriga” durante o dia. Encontrei Maguari, um grande amigo do Clube, e informou que uma das meninas a Claudinha tinha morrido de câncer no pulmão, pois fumava muito e deu-se a bebida dia e noite no terraço de sua casa, ouvindo musicas dos seus cantores preferidos e curtindo melancolicamente dor de cotovelo por não mais poder ir ao Clube das Pás na sexta feira, ficando somente a Lucinha já com idade avançada no casarão no Alto da Conquista com os seus ais.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

É o fim da picada!




Por Zezinho de Caetés

Quando eu li o texto que transcrevo abaixo, lembrei de uma amiga que faz tempo que não vejo: A Lucinha Peixoto. Menos por ela e mais pelos autores  que ela gostava de comentar, e a Mary Zaidan, a autora do texto, era uma de suas preferidas. A Lucinha era a prolixidade em pessoa, mas, aqueles escritores que ela citava, não. E a Mary foi de uma precisão cirúrgica no texto que se segue lá embaixo.

Começa pelo seu título (“Ao diabo não se diz amém”) que, quando o li pensei logo que ela iria criticar os eleitores por ter votado na representante do diabo no Brasil que é a Dilma. Afinal de contas, ela disse que para ganhar as eleições construiria até um capeta. Mas, não é disso que trata o texto da Mary Zadan.

Ela aborda a tentativa do governo Dilma, de, depois de usar de todos os expedientes para ganhar a eleição, agora ela quer que o Congresso aja para justificar os crimes que seu governo cometeu à economia brasileira. Todos sabemos que as contas públicas chegaram ao fundo do poço e os próprios petistas estão descobrindo que o poço não tem fundo. E isto é crime de responsabilidade desde a Lei de Responsabilidade Fiscal, que é do tempo dos tucanos e foi muito mais importante para o Brasil do que o próprio Plano Real.

E a pergunta feita no texto abaixo, e sua resposta que virá logo, logo, mostrará se o nosso Congresso ainda tem alguma lisura para dizer não, ou vai se avacalhar de vez no toma lá, dá cá que reinou nestes últimos 12 anos. Se, nossos congressistas aprovarem tal coisa, só resta mandar-lhes todos para “o diabo que os carregue”. Afinal de contas eles estarão mandando o Brasil para o inferno.

Fiquem com o texto da Mary e vejam e reflitam até onde iremos se o Dilmo/Lulo/Petismo continuar dando as cartas por aqui.

“Não é a primeira e por certo não será a última vez que o governo Dilma Rousseff transfere para outros a tarefa de corrigir os males provocados por um dever de casa que ela não fez. Mas nunca antes da história deste país um governo foi tão longe: quer aprovar uma lei para descumprir a lei. 

A proposta de flexibilizar a meta fiscal enviada ao Congresso Nacional é obscena sob qualquer ótica.

Dilma gastou muito mais do que arrecadou por meses a fio. Passou a campanha eleitoral inteira mentindo que a economia ia bem, tratando qualquer crítica como mau-agouro de gente que torce pelo quanto pior, melhor.

A menos de dois meses do fim do ano, a recém-reeleita se vê forçada a confessar que não tem saldo para fechar as contas. Sugere mudar as regras do jogo pertinho do apito final, exigindo que o Congresso limpe a sua lambança.

Mais: pede arrego com a marca registrada da arrogância.

Nem Dilma nem os seus admitem qualquer erro na condução da política econômica. Ao contrário. Publicamente, ela faz pouco caso do tema: “Dos 20 países do G-20, 17 estão hoje numa situação de ter déficit fiscal”, disse em Catar, antes de seguir para a Austrália para o encontro dos 20 ricos que ela afirma estarem mais debilitados do que o Brasil.

Se assim fosse, por que então inventar uma lei de última hora para pintar de azul o vermelhão das contas públicas?

Na sexta-feira, em entrevista à jornalista Míriam Leitão, o ministro da Casa Civil, Aloízio Mercadante, ultrapassou todos os limites. Arguido sobre a hipótese de rejeição da proposta, ele, sem qualquer constrangimento, transferiu a conta da irresponsabilidade governamental: “Se o Congresso não der autorização nós cumpriremos o superávit. É simples. Suspende as desonerações, corta os investimentos para as obras e para uma parte da economia. Nós vamos ter mais desemprego e ficará na responsabilidade de quem tiver essa atitude.”

Falou isso de cara limpa, como se ao invés de estagnação e PIB menor de 0,5%, o país estivesse crescendo horrores graças à indução das políticas públicas.

À obscenidade agregam-se à lei outros atributos da mesma estirpe. Se aprovada, não servirá a quem interessa, já que credores e investidores sabem que o anil do balanço é falso. Mas, de forma perversa, derrubará o instituto da responsabilidade fiscal também nos estados e municípios. Se a União pode, por que não os demais? Um desastre anunciado.


Ainda que a manobra arisca dos aliados para acelerar a votação indique a possível aprovação do projeto, o Congresso Nacional tem uma chance única de evitar a catástrofe. De mostrar que não se ajoelha para quem faz o diabo.”

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Suicídio em Bom Conselho




Por Carlos Sena (*)

Minha terra tem sido alvo de preocupação de autoridades. O motivo? Taxa elevada de suicídio nos últimos anos! Até o Padre Marcelo Rossi já se pronunciou nesse sentido, mas não tive acesso. Mesmo sem ter lido, entendo fundamental um diagnóstico religioso, pois nesse momento temos que encontrar uma justificativa que nos possa compreender melhor esse fato social, principalmente pela sua característica de ter ocorrido, prioritariamente entre os jovens. O nosso “Ponto de Vista”* acerca disso não ignora as questões religiosas, mas incursiona no viés mais sociológico do fato. Romper com a própria vida, acabando com ela é deixar claro que houve conflitos interiores de toda ordem. A vida social é sustentada na base das expectativas sociais e estas, sedimentam-se no conjunto de símbolos que diariamente interagimos com eles. Porque a gente nasce e somos lançados a um universo de símbolos e significados. Primeiro pela família, depois pelas demais Instituições Sociais.  Adultos, não raro temos conflitos: ora em função de valores que nos foram ensinados, mas que nós, depois de grandes não concordamos com eles. Afora isso, há questão inclusive genética que não se pode ignorar para compreender um suicida. Mas, nesse breviário, preferimos incursionar no mundo simbólico, principalmente os da afetividade – aqui incluídos o afeto no seio familiar e o afeto no seu sentido mais direto entre pessoas no desfrute da sua sexualidade. Não necessariamente do sexo, mas da sexualidade em seu sentido mais absoluto.

As cobranças da sociedade são o grande componente das expectativas sociais que podem tranquilamente, levar uma pessoa de estrutura de personalidade instável, a chegar aos extremos de si mesmo dando cabo da sua própria vida. Evidente que no mundo dos suicidas há solidão. Evidente que há no seio da nossa sociedade valores frouxos além da conta. Eles não são capazes de suprir anseios, pois nosso sistema social é extremamente competitivo e muita coisa da “ética e da moral” que bem poderiam dar esse substrato não o fazem. Motivo: como pode uma juventude que vive de balada em balada, que não desgruda do celular, que não tem relação sincera com os pais e estes não lhes dão o limite necessário para a vida, conseguir objetivo de vida? Como pode uma juventude que não tem nos pais uma autoridade, mas um amigo? Amigo é uma coisa, pais é outra coisa. Nossos jovens estão sem saber amar e sem ter quem lhes inspire nessa direção. Dentro de casa os pais são permissivos demais e tudo fazem pelo filho no quesito “conforto de bens materiais”, paz interior nem sempre. Colocam-nos para estudar nos melhores colégios, mas se esquece de saber, pelo menos qual a linha de conduta pedagógica daquele colégio. Os pais, no geral, se orgulham de dizer que seus filhos estão numa escola com piscina, academia, ar condicionado nas salas, etc., mas não vão às reuniões das escolas quando são chamados, imaginem sem ser chamados! A escola, por sua vez, administra sua incapacidade de ser critica e libertadora, ou seja, não se preocupa com a felicidade dos alunos, mas com o repasse de um currículo nem sempre apropriado aos alunos e seus tempos interiores e exteriores. Seus professores temem perder o emprego porque um pai pode pedir sua cabeça à diretoria porque está “puxando demais pelo seu filho”.

O suicídio mereceu estudo sistemático do Sociólogo Frances Émile Durkheim. Merece ser lido pelas autoridades de Bom Conselho. Merece ser debatido pelas escolas, o que acho pouco provável, pois não estaria na pauta escolar esse tipo de debate, salvo melhor juízo. A ESCOLA MODERNA o é no pior sentido e isso é grave!

Independente de outras conjecturas, fato é que os nossos jovens são flagrados sem ter futuro. Porque viver a vida consumindo Aviões do Forro, Garota Safada e outras baboseiras; viver em cidades em que os prefeitos gastam milhões com essas bandas, mas pagam miséria aos seus professores; viver consumindo drogas nas barbas dos pais, além de dividirem copos de cervejas com os pais e até professores, convenhamos, isso não sedimenta símbolos, nem valores.

Portanto, a juventude de nossa terra padece do mal da grande maioria de outros jovens em diversas outras cidade: não são felizes! Quem é feliz não mata nem morre. Quem é feliz é temente a Deus. Quem é feliz não tem medo de solidão, nem fica em depressão por muito tempo. Quem é feliz sabe que há dias que a gente não está bem. Quem é feliz vai a luta, porque o que dá pra rir dá pra chorar e não se faz omelete sem quebrar os ovos.  Mas, convenhamos, com essa sociedade que só estimula o consumo de valores sociais frouxos, suicidar-se é tarefa de nenhuma dificuldade, tendo de lambujem pais de família permissivos... Não poderia ser diferente.

* ”Ponto de Vista” é o titulo da minha inserção na Rádio Papacaça, semanalmente, falando para os meus conterrâneos acerca de diversos temas. Certamente irei falar sobre o Suicidio, mas vou estimular em minhas crônicas tudo em função do amor – pois em ele tudo se torna pequeno demais...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 26/09/2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A semana - "A cantiga da perua é uma só: relaxem e gozem!"




Por Zé Carlos

Mais um semana que se passa e a vontade de rir cada vez aumenta mais. Embora o filme do UOL esta semana seja curto e localizado, tentaremos ampliá-lo colocando o seu último dia, o 15 de Novembro, em destaque.

O grande motivo foram as manifestações que estavam programadas para este dia, aqui em São Paulo, de onde escrevo, as quais tive uma vontade danada de ir mas não pude. O riso surge logo em torno de quantas pessoas participaram delas. De 10 a 50.000 eu vi todos os palpites. E foram 3 manifestações em 1, pela diferença do que se queria dizer com elas. A única unanimidade é que eram todas contra Dilma. Ela anda apanhando mais do que mulher de malandro. Talvez tenha sido por isso que passou a data lá pela Catar.

Pelo que li, uma facção manifestativa queria o impeachment da presidente, outra queria que o PT caísse fora e ainda uma terceira pedia a volta dos militares. O que me fez rir mais foi esta última. Nunca vi coisa mais antiga. Parecia até que eu estava voltando aos meus tempos do Colégio Estadual de Pernambuco em 1964, ano em que não chamaram os militares mas eles meteram o bedelho onde não foram chamados e vivemos 20 anos de ditadura. Hoje, penso eu, nem os militares apoiariam tal movimento, e a grande maioria apoia a Constituição, a Democracia e o Estado de Direito e devem estar dizendo: “Quem pariu mateu que balance”.

Outro fato importante e risonho da semana foi a prisão de empresários envolvidos na operação Lava-Jato. Encheram não sei quantos camburões. Então, risonha por que, cara-pálida? Porque o último empresário que foi preso no Brasil foi o Maluf e já está solto há muito tempo. E dizem que agora vêm os políticos e já se pensa contratar navios, trens e ônibus pois os camburões da polícia não caberão nem a primeira leva. E serão necessários vários carros-fortes, se quiserem que eles devolvam as propinas envolvidas na história da Petrobrás.

No entanto, diante de todo este horror, o que o filme do UOL encontrou de mais engraçado foi a Marta Suplicy querendo falar mal da Dilma em sua carta de demissão. A Martas só faltou mandá-la relaxar e gozar no próximo mandato, pois este que passou não esteve com nada. Dizem que ela pode até sair do PT, com a decepção que ela teve com sua ex-chefe. Eu me lembrei de uma propagando comercial que diz: “De mulher para mulher, Marisa!”. Ou seria Martinha? A Marta insinuou que a equipe econômica da chefe era completamente incapaz. Não com estas palavras, é claro, ela apenas disse que ela não tinha credibilidade, nem despertava confiança, nem fazia o país crescer e ainda o mantinha num clima de tanta instabilidade que até seu ex-marido o Eduardo Suplicy não havia sido eleito, nem nunca mais havia vestido a cueca por cima da calça. Será que ela quis dizer mesmo incapaz? Interpretem bem antes de rir.

Vamos e convenhamos, a Marta não chegou a chamar a Dilma de gorda, o maior insulto que uma mulher pode fazer a outra, mas, chegou muito perto, e tenho certeza, falou mal dos seus modelitos vermelhos.

Enfim, semana curta, prosa curta e filme curto. Tudo curto menos a história da delação premiada que parece nunca terminar. Se o número de empresários que disseram que farão uma delação premiada estiver correto, talvez não escape nem São Pedro, que será processado com base na Lei Afonso Arinos, por ter perguntado a São Benedito sobre a cor de sua tez.

Fiquem com o resumo dos roteiristas do UOL e vejam em seguida o filme, que, se não tiverem vontade de rir pensem numa perua que havia lá em Bom Conselho, que se livrou da panela, por ter feito um regime à base de caldo de cana. Tenham todos uma boa semana.

“A ex-ministra da Cultura Marta Suplicy (PT) fez o que muita gente sonha: pedir demissão e zoar o chefe. Em sua carta de demissão, Suplicy alfinetou a presidente Dilma Rousseff (PT) ao criticar a política econômica do governo. O documento diz: "Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país."”

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O SAPATEIRO




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Chico Venâncio era um sapateiro afamado na comunidade de Alto de José Bonifácio. Pelo seu trabalho caprichado o seu nome atravessou fronteiras do seu bairro. Muitos eram seus fregueses. A sua tenda/oficina era em pequeno quarto na sua casa. Diariamente recebia para conserto sapatos para troca de solado, sandálias para colar, e o que chegava avariado saia novinha em folha. De manhã colocava o seu avental de couro e em suas pernas colocava o ferro de formas onde martelava a sola e pregava com taxas pequenas nos solados. Muitos eram colados com a cola de sapateiro.  Às oito horas estava ele já fazendo zoada. O pequeno radio na prateleira ligado na Radio Jornal ouvindo o programa Bandeira 2 com informe sobre os crimes e roubos ocorridos na cidade e depois na Rádio Tamandaré, com  as suas musicas prediletas de antigamente. De vez em quando chegava um vizinho para trocar ideias. Não gostava, pois lugar de trabalho é de trabalho muitas das vezes incomodava, pois tirava ele da atenção do serviço. Conhecemo-nos na mesa do Bar Savoy, em plena Avenida Guararapes, em uma manhã de sábado. Achegou-se a nós quando começamos falar de futebol, ele apaixonado pelo Santa Cruz. Pouco a pouco todo sábado lá estava ele sentado já com uma dose de Rum e uma garrafa de Coca Cola.  A convite em um sábado pela manhã fomos ao Mercado de Casa Amarela no boxe de Seu Xavier tomar uns aperitivos e como tira gosto um sarapatel que era afamado no bairro de Casa Amarela. As mesas estavam lotadas. Conseguimos através da amizade do dono do bar duas mesas que nos acomodamos e saímos por volta das 18 horas. As musicas de Nelson Gonçalves, Timóteo, Altemar Dutra, Ângela Maria, Nelson Ned e tantas outras nos levavam ao gole de cerveja e comentários sobre o tempo de namoricos.  Certa vez estávamos no bar da Portuguesa na Rua Diário de Pernambuco, e o Chico se engraçou com uma garçonete novata. As brincadeiras e os olhares e as cantadas sempre em tom de brincadeira tornou-se realidade. Todos nós fomos contra quando ele disse que ia alugar uma casinha em Casa Amarela para vivenciar algum tempo com ela. E assim o fez. O tempo passou sem que o Chico aparecesse no Savoy. O nosso comentário é que poderia estar doente, ou mesmo mudar de local para tomar os seus aperitivos. Ledo engano. Um companheiro nosso, o Nilo, soube que a mulher descobrira este caso e o colocou de casa pra fora, em um domingo a tarde quando ele chegou da casa da sua “filial”. Foi aquele desespero. Mas dona Rita não afastou a sua decisão. A lojinha onde consertava os sapatos de sua clientela estava fechada. Foi aquele Deus nos acuda. Dona Gertrudes, vizinha há bastante tempo, interviu, mostrando que o Chico merecia o castigo, mas ele tinha que entregar as encomendadas aos seus fregueses, que nada tinha a ver com aquele episódio triste que ela mesma repudiava, dizia – todo homem é safado, não merece o nosso perdão. Se fosse uma de nós, queria colocar agente pra fora de casa e quem sabe até matar. Mas deixa pra lá. Dona Rita acatou a ideia, com uma condição que ele não ocupasse a casa, apenas o quartinho de trabalho. E assim foi aceito pelo Chico mesmo a contra gosto. O tempo passa é o Chico aparece, no Savoy como de costume no sábado. Foi aquela alegria na mesa, onde jogávamos “porrinha”. Dezenas de perguntas foram feitas sobre o que aconteceu. Contou que estava voltando para casa. Dona Rita se apiedou depois que ele foi acometido de uma doença grave no intestino. A “cabrita” do Bar A Portuguesa deixou na rua da amargura – dizendo – tu achas que eu vou cuidar de tu? Claro que não, tenho que trabalhar, não nasci para ser enfermeira. Saiu e somente voltou para pegar as suas tralhas e deixando um bilhete – Até logo amor.  E assim aqui estou sem fazer nenhuma extravagancia. Voltei ao meu trabalho. A clientela aumentou. E assim todos os dias a tardezinha quando fecho o meu “escritório” e guardo “a minhas canetas” tomo banho e vou até bodega de Seu Felinto, perto de casa tomo duas cervejas, o Rum foi proibido de tomar, volto para casa com o pãozinho quentinho para o café. A vida voltou ao normal e nunca mais vou me meter com estas “putinhas” que aparecem e, dou um conselho a vocês não se metam, pois a coisa é feia. Até breve!

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Os Débitos Existenciais ou "Reflexão de Final de Noite"




Por Carlos Sena. (*)

Tem gente que eu peço a Deus que envelheça. Primeiro porque não se deve desejar que ninguém morra jovem, exceto se for por ordem do "Homem lá de cima". Mas, juro que gostaria que muita gente envelhecesse, porque tem gente que morre jovem e, por serem pessoas tão boas a gente diz que "Deus levou porque aqui não é lugar de anjo"... Por isso eu queria ver muita gente morrer velhinha para poder purgar tudo que um dia elas não souberam construir. Pela lógica do "quem planta vento sempre colhe tempestade", certamente essas pessoas iriam purgar em plena terra o que pouparia satanás de fazer esse trabalho nas profundezas dos infernos. Certamente isso não seria de todo mal. Explico: um traste que viveu só fazendo maldade na terra tem mesmo que morrer velhinho para adquirir estabilidade em vida para se redimir das merdas que fez quando jovem ou quando adulto. Porque uma pessoa dessas morrendo jovem vai para a companhia do Belzebu direto, via internet. E, certamente, perderia o direito de se purificar na terra onde pintou e bordou abusando do seu livre arbítrio. Desejar isto seria, sobremaneira, um desejo bom, positivo, ou não? Creio que sim. Porque no final da vida, com o peso dos anos nas costas e com todas as limitações que um idoso naturalmente tem, com certeza purgaria tudo que tivesse por direito e por avesso. Esse meu desejo se faz neste tear de letras, por conta da prática abusiva dos que hoje, jovens, acreditam que um dia não ficarão velhos. E por assim acreditarem, não respeitam os pais, nem os professores, nem os próprios amigos. Sem contar que vivem cultivando a maldade em tudo que fazem e em tudo que pensam se sobressai o extenuante dilema de levar vantagem em tudo. Assim, diante dos dissabores que é envelhecer numa sociedade como a nossa que ignora seus idosos e fica caolha para as nossas crianças, certamente essas pessoas teriam muito a aprender com o sofrimento do abandono. Também com a ingratidão dos filhos. Com a dificuldade de viver com uma aposentadoria do INSS e ser surrupiado pelos netos, além de outros vícios como o do alco e das doenças outras da idade associada a pior delas - a perda de tudo que um dia quando jovens tiveram em excesso como visão, audição, etc..

No fundo o rumo dessa prosa é espiritista. No melhor sentido do que possa ser compreendido, pois desejar vida longa para todos é melhor do que desejar vida breve mesmo para as "almas sebosas"... Assim, não creio que quando uma pessoa boa vai "embora" antes do tempo é porque Deus não quer pessoas boas conosco. Esse é um raciocínio imediatista e retórico - mais reto do que rico. Porque o mundo está aí para todos viverem conforme seus designos. Só que nada que fazemos é por acaso que fazemos. Nada que sentimos é por acaso que sentimos. E, certamente quando algo nos acontecer contrariando nossas expectativas não será por acaso que iremos sentir tudo em nossa pele. É a lei do retorno. A lei da causa e do efeito. As combinações cósmicas que gravitam em nós por conta e risco do que gravitamos em nossa mente em cada gesto nobre ou não. Em cada bom desejo aos outros. Em cada perdão chancelado pelo coração. Em cada sentimento de humildade que tenhamos como forma de vida e permanente convicção existencial.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 26/09/2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

"As Veias Abertas da América Latina"




Por Zezinho de Caetés

Hoje volto com o Ruy Fabiano, que saindo do Brasil mas ficando nele, aborda o tema Bolivarismo, que eu prefiro chamar de Bolivarianismo, no seu texto do dia 08/11/2014, no Blog do Noblat (“O Brasil e o Bolivarismo”), que nada mais é do que o chamado pelo Hugo Chávez de Socialismo do Século XXI. O tema é bastante atual porque o Lula disse que quem criou o Chávez foi ele, e se tiver oportunidade dirá que criou também o Simón Bolívar, que é um general basco que andou dizendo que revolucionou a América Latina. E é este tipo de socialismo que o PT tenta agora implementar no Brasil. Vi alguém dizer e concordo que o Bolivarianismo é o “populismo” em estado puro.

Mas, afinal de contas, além do populismo desvairado, o que temos em comum com a América Latina? Para mim e para o Ruy, as coisas comuns são o subdesenvolvimento, o DNA católico e o hábito triste de dizer que são os americanos os culpados de tudo. Dentro deste contexto lembrei de um livro que deixou seu autor muito rico, o Eduardo Galeano, cujo título era: “As veias abertas da América Latina”. Por um bom período de tempo, as esquerdas encheram o bolso do autor, comprando e divulgando o livro que simplesmente enganava os incautos.

E leio agora, pasmem, que depois da tremenda influência que teve no pensamento bocó das esquerdas brasileiras, o próprio autor diz que nem ele mesmo leria mais sua obra “prima”. Diz que foi um erro da juventude. O livro, como todos sabem, tem o enredo fundamental do Bolivarianismo, pelo menos em sua origem, e até foi presenteado pelo Hugo Chávez a Obama. E quem sabe, pelo que anda tentando fazer por lá, talvez o tenha lido, incutindo o sentimento de vitimização e culpando os ricos pela pobreza dos pobres. Lula, se soubesse escrever, talvez dissesse melhor, como o fez na campanha da Dilma, acalentando o “nós contra eles”, tradicional do PT.

Eu já digo que agora é que as veias da América Latina se abrirão se o Brasil entrar nesta aventura bolivariana do Socialismo do Século XXI. Não se pode dizer nada do novo governo da Dilma ainda porque parece que ela está rompida com seu criador, o Lula, e este já começou a bombardeá-la de todas as formas. Nossa esperança é esta cisão entre criador e criatura para evitar que todo nosso continente seja vítima da sandice do Chávez, e que o Brasil possa liderar a libertação da América Latina, quase toda ela escrava do defunto, e ir no rumo do desenvolvimento. E para isto, se o doleiro Youssef estiver mentindo, só se dará daqui a quatro anos. Mas, se ele estiver dizendo a verdade.....

Fiquem com o Ruy Fabiano e meditem sobre o nosso futuro.

“A inclusão do Brasil num projeto socialista bolivariano, que transformaria o continente numa pátria única – a “Grande Pátria”, de que falava Hugo Chávez -, subverte não apenas o princípio da soberania, mas sobretudo força uma unidade política artificial.

Nada temos com Simon Bolívar, que é herói de outro mundo, forjado numa mitologia política que não nos diz respeito. Vale tanto para nós quanto Tiradentes, por exemplo, para os bolivianos.

Sublimar personagens históricos para, a partir deles, criar símbolos de unidade nacional é recurso usual – e de certa forma legítimo -, vigente em todas as nações. Os norte-americanos têm seus Pais Fundadores, cultivados até hoje como fator de união cultural e política. Não há presidente que não os mencione. Idem os europeus – franceses, alemães, ingleses, italianos etc.

Temos também nossos Pais Fundadores, embora já há algumas décadas submetidos a um processo de depreciação ideológica. Mas figuras como José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Pedro I e II, Tiradentes, Joaquim Nabuco, Duque de Caxias e Ruy Barbosa (para citar apenas alguns) estão na origem de nossa formação nacional - obra complexa e em curso, dadas as dimensões continentais e a índole multicultural do país.

Quando, porém, se afirma que “nunca antes neste país” se fez nada de relevante, e se busca anular todo o passado – dispensando-se inclusive de conhecê-lo -, empastelando seu meio milênio de história como um transe equivocado, conspira-se contra sua memória, o maior patrimônio civilizatório de qualquer nação.

Note-se que, à exceção de Caxias – e mais pelo seu papel de pacificador que de guerreiro -, os nossos Pais Fundadores são todos civis, não obstante os recorrentes golpes militares da República.

Mas não temos a tradição guerreira dos hispano-americanos. Nosso elo comum é o subdesenvolvimento, o DNA católico e o hábito de terceirizar nossas mazelas, debitando-as à conta das potências hegemônicas. No mais, nossas relações jamais foram íntimas. Somos vistos como um corpo estranho ao continente, portadores de outro idioma e de outras tradições.

O conquistador português logrou um feito em sua colônia americana que o colonizador espanhol não conseguiu: a preservação de sua unidade política.

A independência da América espanhola resultou no surgimento de diversas repúblicas que, não obstante a língua comum, não superaram suas divergências regionais. Protagonizaram guerras entre si e até hoje discutem questões de fronteiras. O único conflito regional em que o Brasil se envolveu, em resposta à invasão de seu território, foi com o Paraguai, na década dos 60 do século 19.

O Foro de São Paulo, entidade fundada em 1990 por Lula e Fidel Castro, intenta a unidade do continente a partir do elo ideológico – bolivarismo é sinônimo de socialismo -, o que é, em si, um fator beligerante, como se tem visto.

Tenta-se resolver a disparidade social pela via do populismo, desconhecendo-se o fato de que apenas a geração de riqueza pode banir – ou ao menos reduzir significativamente – a pobreza.

Não se conhece outro meio, e quanto a isso o socialismo não deixou dúvidas. O insucesso econômico e a diplomacia ideológica agravam as dificuldades. Mas, mais que isso, a tentativa de inclusão do Brasil nesse contexto - país bem mais complexo que seus vizinhos - sofre a limitação adicional de a ele não pertencer, nem histórica, nem cultural, nem politicamente.

A maior parte da população nem desconfia da existência do Foro de São Paulo e de seus propósitos. Os dirigentes do PT são cautelosos quando tratam do tema, pois querem contornar essa estranheza. Mas basta conferir sua proposta de reforma política, seu brado revolucionário continental e os caminhos que sugere para não haver dúvida quanto à trajetória pretendida, já trilhada pela Venezuela, Equador e Bolívia, entre outros.

Lula mesmo já se jactou de ter “inventado Hugo Chávez”. E Nicolas Maduro, em vídeo que pode ser apreciado no Youtube, em que saúda a vitória de Dilma Roussef, deixa clara a decisiva importância do Brasil ao projeto da “Grande Pátria” bolivariana.

O intercâmbio político entre as duas nações, que não tem correspondência no plano econômico, evidencia essa parceria saudada por Maduro. E não é casual que os dois países tenham feito de suas respectivas empresas de petróleo – a PDVSA e a Petrobras – o mesmo bordel financeiro.


São (foram), aliás, parceiras no desastroso empreendimento da refinaria de Abreu Lima (PE), nome que homenageia o único general brasileiro a aderir às tropas de Bolívar na independência hispano-americana. O bolivarismo levou as nações que a ele aderiram ao desastre econômico. O Brasil já chegaria ao clube com o desastre previamente consumado. É improvável que a meta se concretize, mas a insistência em alcançá-la promete muito barulho.”  

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Gal Costa, Porque Alguém me Disse.




Por Carlos Sena. (*)

Quando alguém fala de musica eu só fico na espreita. Porque todo mundo acha que entende de musica. Talvez entenda mesmo, mas de boa musica eu duvido. Porque o povo chama de musica essas tranqueiras de Calypso, Calcinha Preta, Aviões, Garota Safada, etc. Como se não bastasse tem agora o "meu bebê" dum caba chamado Pablo. Nada a rotular na onda do brega ou chique. Não. Brega ou chique é um sentimento. Porque nem tudo que é brega  é ruim e nem tudo que é chique presta. Porque música, repito, é um sentimento. O que condeno nessas bandas de papel crepom é que não fica nada delas no tempo real, imaginário e social. Todas as musicas são parecidas. Todas as cantoras (exceção honrosa a cantora de Aviões) tem o mesmo timbre vocal e, não raro, tem um bando de moças e rapazes mostrando o rabo num balé nem sempre sincronizado como deveria. Mas, são coisas de um tempo de valores frouxos, de consumo exagerado de qualquer tipo de coisa que a midia divulgue, inclusive musica ruim. Pra não me delongar muito nesse argumento, sempre me lembro de uma passagem antológica: quando eu ensinava numa importante Faculdade do Recife, fui surpreendido come uma turma de alunas catarolando a esmo a música "Alguém me disse". Eu fiquei super feliz. Mas, uma das alunas se saiu com essa pérola: "professor, o senhor já escutou o novo sucesso de Gal Costa"? Eu disse: qual? Essa que vocês estavam cantarolando? Pois bem, deixe que eu lhes atualize a cultura musical: essa musica é da idade em que minha mãe namorava meu pai. Gal Costa regravou e fez uma excelente releitura dela. Pra vocês não pensarem que eu estou blefando vou cantar com vocês. Cantei a letra todinha acompanhado das alunas e ficou um coral lindo. Elas, certamente, aprenderam que musica é um estado de espírito e não tem idade. Tem musica ruim tem. Mas, aí são outros quinhentos neste contexto dado. Porque essa musica é de Evaldo Gouveia e Jair Amorim. Gravada também por Nelson Gonçalves, Maria Carolina e Gal Costa além de outros. Para o meu gosto, a melhor interpretação é de Nelson Gonçalves.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 24/09/2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A semana - Dilma e Aécio em tempos de Jovem Guarda




Por Zé Carlos

Quando estava no exército, ou mesmo antes, nas aulas de Educação Física, com o Leninho, lá em Bom Conselho, aprendi a dar “meia-volta”. Ao comando de “meia-volta, volver!”, girava 180° e começava a voltar para onde tinha saída, ou para o lado oposto. Eu, não sei se, no tempo em que a nossa presidente Dilma, reeleita por 50% mais 1 dos brasileiros, estava na luta pelo que ela dizia ser uma revolução para o nosso país, ela também aprendeu a obedecer este comando. Só sei que 15 dias depois de reeleita, alguém, não sei quem, disse: “meia-volta, volve!” e ela fez o movimento de volta atrás, com uma ineficiência jamais vista.

Os juros subiram, como já era esperado, descobriu-se que a miséria aumentou mas só divulgaram depois das eleições, aumentou a gasolina e o diesel, e agora ela promete cortar os gastos públicos, o que sempre sobra para o povão que nela voltou. Alguns perguntarão neste ponto de tanta seriedade: E esta coluna não se propõe a ser de humor? E eu responderia: E isto não dar vontade de rir? Pensem apenas no que é uma campanha eleitoral no Brasil e se aguentem em suas poltronas para não morrerem de rir. Eu fui economista um dia, e sempre soube que medidas duras seriam necessárias para acabar a farra que foi criada em torno do assistencialismo eleitoral, mas, os candidatos, e para ser justo, qualquer um deles, propunham o céu, na entrada do inferno. Então, não tem jeito, rir é o melhor remédio ao concordar com o “meia-volta”.

Estando em São Paulo, não poderia deixar de mudar minha visão da semana que passou. Daqui surgiram notícias que mereciam aparecer no vídeo do UOL, e não apareceram. E é impossível fugir do fato que o que nos faz mais rir é sempre uma situação ruim para outros, contada de uma forma adequada até para anunciar sua melhora. Foi declarado pelo governador deste estado, o Alckmin, que começará, como forma de resolver parcialmente o problema d’água que o afeta, o uso de água de esgoto para consumo humano. É o tal do reuso, já utilizado em outros países.

Rigorosamente, não há nada para rir com a notícia, a não ser, como bom-conselhense da gema, pensei o prefeito da cidade anunciando que agora iremos tomar água do Papacacinha. Penso na reação de alguns da cidade: “Eu, tomar água com minha merda? Conta outra!” Eu, já comecei a rir, só com esta reação mínima. Imagine como seria motivo de riso uma manifestação, como soe acontecer hoje em dia para tudo, com cartazes: “Água sim, merda não!”, descendo pela frente do Ginásio S. Geraldo e passando pela ponte do Colégio em direção à Praça Pedro II? Extrapolando para São Paulo, provavelmente, na Avenida Paulista seria palco de manifestações, com cartazes: “O Brasil acordou para o cheiro de merda!”.

Até convencer o povo de que há tecnologias eficientes para transformar merda em água, seria um horror que causaria manifestações mil. E qualquer  candidato que se elegesse prometendo transformar merda em água, seria eleito de cara, com pelo menos 50% mais 1 dos votos. Eu defenderia sorrindo que se ele não conseguisse seu intento, sofresse um impeachment de forma imediata. Afinal, por muito menos o Nixon e o Collor caíram fora, e ambos os países destes senhores, ficaram melhor, penso eu.

Vamos agora ao filme do UOL, que nesta semana vale pelas belas músicas da Jovem Guarda e que eu ouvia com os sapatos Motinha e calças Lee apertadas. Parece que o Aécio, depois de ter perdido as eleições, resolveu passar para a oposição ao governo Dilma. Não me surpreende, pois desde que acompanho a política, político mineiro só faz oposição quando é ministro do governo. Entretanto, ele diz que agora é oposição para valer. E disse: “O diabo se envergonharia de coisas que foram feitas nesta eleição!” Já que Dilma disse que faria o “diabo” para ganhar as eleições, só se pode concluir que, no Brasil, política é coisa do capeta.

E ela voltou, nossa colaboradora principal, a Dilma voltou novamente, como diz a canção sobre o boêmio. Com ela, todos já sabem, cada palavra é um riso. E a claque presente já não deixa mais nem ela falar para rir. Basta sussurar para que a gargalhada seja geral. No filme, ela confundiu, numa solene reunião com os correligionários, o PSD com o PSDB. Foi uma risadaria geral, eu não sei o porquê, já que a única diferença é um B. A não ser que eles pensaram que o B, na ocasião fosse o tradicional sinônimo de merda. Nossa! Esta coluna já está fedendo de tanto usarmos esta palavra. Depois, nossos 7 leitores (eram 8 mas um deles disse que não a leria mais porque ela está se tornando muito oposicionista) vão dizer que a ela está uma....

E, novamente, a Dilma diz que quando fica ressentimento em quem perdeu é porque o processo democrático não é compreendido, e pede diálogo urgente. Ora, Fidel Castro, para evitar ressentimentos de quem perde, quer eliminar o ressentido povo cubano, há muito tempo. Dizem que nos discursos de 15 horas que ele fazia no Dia do Trabalhador, ele já plagiava a Dilma: “É preciso saber perder!”. E sussurava para os próximos: “Desde que sejamos nós que ganhemos!”. Estas histórias já viraram até piadas sobre o regime cubano. Agora nem precisamos delas para sorrir. Esperemos as próximas da Dilma.

Enquanto isto, no escurinho de cinema, chupando drops de aniz, os participantes da CPI do Petrolão fizeram um acordo para não fazerem mais nada até o seu término. Ou seja, ela vai cumprir as finalidades para que foi criada. Manter tudo como antes no quartel de Abrantes.

E fora do escurinho das CPIs o Zé Dirceu vai para casa cumprir suas merecidas férias, que começaram na Papuda, e agora sem tornozeleira eletrônica, leve, livre e solto. Seria cômico se não fosse trágico. Quanto tempo falta para que ele possa ser candidato a presidência? Vamos rir?

Agora fiquem com o resumo do roteiro dos produtores do filme do UOL e depois vejam o filme e cantem juntos com a Wanderleia.


“Candidato a presidente derrotado no 2º turno das eleições, Aécio Neves (PSDB-MG) voltou fervendo ao Senado durante a semana. Ele prometeu fazer uma oposição intransigente à presidente Dilma Rousseff (PT) e condicionou o diálogo com o governo ao aprofundamento das investigações das suspeitas de desvios na Petrobras.

Em meio a medidas como a autorização para o aumento do preço dos combustíveis nas refinarias, Dilma procurou adotar um discurso moderado, com mais ternura. Afirmou que é preciso saber ganhar e saber perder.

Enquanto isso, no "escurinho" da CPI da Petrobras, integrantes do PT e do PSDB participaram de uma decisão que poupa políticos citados em depoimentos de envolvidos no escândalo da petrolífera.

E o ex-ministro José Dirceu, condenado no processo do mensalão e que tem fama de mau, passou a cumprir pena em regime aberto.”


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Direto de São Paulo - Chuvas e muriçocas




Por Zé Carlos

Passou uma semana entre meu último texto e este que começo aqui. Parece que São Pedro me ouviu e mandou chuva para este sertão sofredor, embora eu reconheça que o meu sertão e o do Luiz Gonzaga é mais sofredor ainda. Porém, talvez porque o santo não tenha ficado plenamente satisfeito como o resultado das eleições, mandou também uma chuva de muriçocas, para se aproveitarem da sujeira dos rios e córregos paulistas e para festejarem mais do que os nordestinos, quando chove no Dia de São José.

O caos do trânsito não mudou de lugar, é o mesmo. Com uma diferença para mim. Agora já estou ambientado, ou me ambientando na cidade, e tudo está parecendo mais fácil, se não exigirmos muito da condição humana. Esta só seria plenamente satisfeita se voltasse aos tempos de Bom Conselho, do meio do século passado, onde ouvia até o barulho da chuva, quando dormia. Hoje só ouço os carros. É óbvio que não posso voltar àqueles tempos, e para ser sincero, nem queria.

Meu pai sempre me dizia, quando eu reclamava das modernidades daquela época, sabiamente, que em sua infância era muito pior, e eu já disse isto para minhas filhas e espero que elas o digam também para os meus netos. Até hoje penso que o mundo melhorou, na média, e não tenho o que reclamar, mas, quando estamos numa cidade como São Paulo não devemos nos entusiasmar muito. Tudo parece excessivo e peculiar.

Como já ocorre, num menor nível, em Recife, aqui, ligamos a TV e é muito difícil um telejornal mostrar algo diferente do que motoqueiros caídos nas ruas. Santo Deus, eu penso que, pelo número de acidentes que vi até agora, a motocicleta deve ser um “serial killer”  pronto para suplantar o Jack o Estripador, o Stalin, ou qualquer outro. Penso que se continuar desta forma até o final do próximo ano não haverá mais motoqueiros na cidade, pois todos devem ter morrido. Exageros à parte, os acidentes de moto são epidêmicos.

E agora, com a chuva, apareceram os mosquitos, que quebraram um pouco o roteiro de acidentes, e a TV já mostra as consequências deste fato. E, como disse, sendo tudo excessivo nesta cidade, o que se vê são hordas de muriçocas a sugar o sangue do povo, que recorre aos mais variados artifícios de proteção. Nos supermercados, os estoques de inseticidas foram para espaço e outros meios modernos já estão no fim. Elas são um páreo duro para determinados políticos, para ver quem suga mais.

Mesmo que, no local onde estou, não existam tantos pernilongos (penso que os paulistas não sabem o que é muriçoca), eu, ao passar numa rua da cidade, comprei uma raquete antimosquito. Tecnologia de ponta, “made in China”. Ao chegar em casa, igual a um criança, o que esperava era ver um mosquito para estrear o precioso instrumento, que antigamente era usado para jogar tênis. Não estou satisfeito porque, até agora, consegui apenas fazer uma vítima entre os alados chupadores de sangue. Como fui economista um dia, e terminei, pelo hábito, ficando com a boca torta, pensei logo em termos de custo/benefício. Até agora, a raquete foi muito cara. Espero que apareçam mais insetos, que justifiquem sua compra.

O que senti mesmo de verdade foi, com a chuva, o desaparecimento de um programa de rádio, que, para aumentar a audiência, ao invés de sortear carros, brinquedos ou outra coisa, ele resolveu sortear 500 litros d’água. Foi um sucesso. Também, o litro de água mineral por R$ 2,00, o sorteado levava uma boa quantia. Estou esperando agora eles sortearem inseticidas ou raquetes.

E como se não bastasse a neurose pela ausência do precioso líquido que tanto nos faltou em nossa região nordeste, uma grande notícia, com cenas horripilantes, mostrava, pasmem, um roubo de água. E não se tratava, como já vi no nordeste, de roubo de água do açude do vizinho, e sim de dois galões numa fila de um caminhão pipa, para, segundo o ladrão, lavar os pratos e tomar banho. Foi preso e autuado devidamente. Ou seja, em nosso país quem rouba água é ladrão e quem rouba petróleo é barão. Tempos estranhos estes.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Pescar de Loca




Por Carlos Sena (*)

(Pra não falar em Politica)

Houve um tempo em que as meninas eram pedidas em namoro. Enquanto o rapaz não se pronunciasse, literalmente tipo: "você quer namorar comigo"?, não tinha namoro. Era mais ou menos assim o ritual dos primeiros encontros para depois entrar nos primeiros amassos. Amassos? Explico. Pegar na mão tinha status de amasso. Ficar no escurinho do cinema, aff, era um apogeu do namoro. Um beijo? O beijo era tão profundo quando acontecia que algumas menias perguntavam às outras se engravidava com o beijo. Dizer isso para a juventude de hoje soa como surreal, mas é verdade que isso era verdade. Havia exceções, porque sempre teve mulher avançada desde que o homem é homem. Porque a sexualidade manda em nós independente de padrões culturais. Vale salientar que era uma época de muito romantismo e as meninas sonhavam com um príncipe encantado. Sonhavam entrar na igreja de véu e grinalda e ouvir o "unidos até que a morte separe" proferido pelo padre.

Os meninos, do alto das suas atitudes superiores - atitudes de macho - bem disseminadas na época tal qual é hoje. Mas, o freio social havia. O namoro tinha que ser na casa da menina e o rapaz tinha que desfrutar da qualidade de ser respeitador e bem intencionado para com aquela gazela cortejada oficialmente. Ficavam, os namorados, na varanda, ou no alpendre, mas sempre sob os olhares dos pais ou do irmão mai velho que tinha essa incumbência de deduração. Quando os rapazes se encontravam na praça, após sair da casa da namorada, então vinham as perguntas tipo: já pegou na mão? Já beijou na boca? Já "pescou de loca"? Pescar de loca era passear com o tato pelas regiões pudendas das meninas... Que coisa feia essa história de pudendas. Mas é que hoje eu estou meio fora de mim no quesito irreverencia.

Trazendo para os dias atuais essas situações há quem possa imaginar que isso nunca aconteceu. E com razão. Dá mesmo pra pensar assim, porque hoje só se encontra uma "moça" no rótulo do leite Moça. Beijar na boca nem tem graça, pescar de loca é coisa superada, ir pra motel... Bem, ir pra motel ninguem mais vai. Metel seria o nome apropriado. Mas, se depois do Metel não houver nada mais além do que já houve, tudo certo. Porque FICAR é o produto revolucionário da geração nenem. Os namoros, em sua maioria, começam com um test drive.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 24/09/2014