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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Memórias de Paris




Por Carlos Sena (*)

Juntei dinheiro e passei 30 dias na Europa. Isso nos idos do ano de 2002. Desses 30 dias 15 foi em Paris e os demais foram divididos por outos países. De Paris guardo memórias de coisas simples como seus cafés. Caminhar nas ruas até tarde! Vixe como eu gostava, pois a gente ficava deambulando sem medo de assalto nem de bicho papão. Tudo lá é interessante, mas nunca tão extremamente diferente e bom como certas coisas daqui. Fato é que diante de tantas paisagens belas e bem cuidadas, passear pelas ruas de lá talvez seja o que há de melhor. Paris é bucólica. A feira das Pulgas é tudo de bom - é uma feira tipo troca-troca, só que mais voltada para a arte e a cultura. Das cenas cotidianas duas me marcaram. A primeira foi ver um homem de terno e gravata num ponto de ônibus com duas baguetes nas mãos. Nem um papelzinho em volta dos pães existia, era, literalmente, nas mãos. Isso num calor do cão. Outra foi no Magazine Lafayete. Era uma concorrida liquidação mais parecendo aquelas nossas antigas lojas  Mesbla e Viana Leal. Pois bem, uma madame e duas filhas discutiam entre si para comprar o que pudessem para para levar pro Brasil, mais precisamente para São Paulo. Tratava-se da mãe e duas filhas. Elas não contavam que eu  era brasileiro e estava entendendo tudo. Diziam, dentre outras coisas, que tinham que levar roupas para tal e qual festa ou casamento. O melhor foi a pirangagem. Eram pessoas falidas ao que tudo fazia crer. Em determinado momento a mãe disse para as filhas que o cartão de crédito já estava no limite. Então uma delas deu um "bale" na mãe que por gosto se poderia ouvir. Lembro-me bem que uma das filhas quase chorando disse a mãe que "o que as MINHAS amigas vão dizer se eu não levar roupas de Paris"? Detalhe: eram roupas baratíssimas, mas cheias de ajustes a serem feitos. Mesmo assim, pra elas, o importante era sair de Paris, mesmo contando trocados, com muita roupa feia que ficariam bonitas porque eram de Paris. Certamente quando chegaram em SAMPA desfilaram com roupas démodés compradas em liquidação, mas isso elas, com certeza não diziam às amigas. Tive tanta vergonha de ver aquela cena que sai de fininho e deixei aquelas mequetrefes se digladiando para comprar molambos em Paris.

Contando essa história lembrei de Danuza Leão, que recentemente disse que não vai mais a Europa porque todo pé rapado agora também vai. Acho que na época que eu fui ela ainda ia por lá. E eu daria tudo pra vê-la numa liquidação das lojas Lafayette. Diante da sua feiura certamente eu corria longe pensando que era um bicho papão. Como ela fala francês fluentemente  eu não ia entender direito se ela pirangava ou não. Acho que não, pois grana ela tem de sobra.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 28/10/2014

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