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sábado, 18 de outubro de 2014

CARROCEIRO




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Conheci Joaquim, o Quincas. Morava em palafitas na favela dos Coelhos. Moreno, forte e com muitas conversa principalmente quando tomava alguns aperitivos. Percorria desde manhã ate ao meado da noite a cata de papelão deixadas nas calçadas pelo comercio. Com chuva ou com sol, lá vinha o Quincas puxando sua carroça pela Rua da Aurora. Os veículos buzinavam pedindo passagem, ele ia sempre em frente. Era xingado. Não respondia. Sorria. Estacionava por detrás do Cinema São Luiz, mais ou menos ao meio dia. Enxugava o rosto molhado de suor ia até o banheiro e se lavava. Chegava junto ao balcão pedia uma pinga e dizia que era para espantar os maus espíritos. Muitas das vezes sentava-se em uma mesa e fazia um lanche. Numa desta ocasião, sentou-se perto da nossa mesa onde jogávamos porrinha. Melo um homem brincalhão, foi quem deu o primeiro passo para acolhê-lo, como companheiro de bar. O Quincas era tricolor. Gostava do Santa Cruz. Era time de pobre e pobre tinha que se unir com pobres para saber levar a vida  na esportiva. Foi à gota d’agua para se aproximar de nós. Puxe a cadeira, disse Melo para o Quincas. Dali por diante duas ou três vezes por semana o carroceiro ali aportava. Bebericava e beliscava o tira gosto ora galinha guisada, ora sarapatel. Queria dar a sua contribuição e não aceitávamos. Saia puxando a sua carroça ainda vazia indo pela a Rua Imperatriz e descendo a noite pela Avenida Conde da Boa Vista, seguindo direto para a sua casa pela Rua Dr. José Mariano. Tinha dois filhos, Josué o mais velho e Monica sua filha a menina dos seus olhos. Os dois estudavam em escola municipal na Boa Vista para ser gente quando crescer e não andar puxando carroça feito “burro” pelas ruas e avenidas, mais o Quincas não se envergonhavam, pois todo trabalho era digno. Era o sustento da família que morava em lugar desumano a beira do rio. Os anos se passaram e a amizade continuava. Em um sábado ele chegou já cansado colocou a sua carroça já cheia de papelão e achegou-se a nós - disse olhem pessoal eu sou um pobre coitado, mas hoje estou bastante alegre e quero convidar a todos vocês para tomar uma cervejinha, ou uma pinga no bar do Ramalho lá nos Coelhos, pois a minha alegria e o meu esforço esta sendo recompensado - o Josué passou no vestibular de Medicina e vai ser Doutor, filho de um carroceiro. É para se festejar ou não é? Todos nós ficamos boquiabertos com aquela noticia. Na hora estavam presentes os amigos do Bar Savoy, O Nilo, apelidado de Major; Maguary, Despachante da Receita Federal; Dr. Coentro, Médico; Melo vendedor; Guilherme, cobrador dos Sócios do Sport Clube do Recife, Jamaci, Receita Federal, Clovis Carvalho, bancário, Maia, comerciário aposentado. Aceitamos o convite, porém com medo, pois a área era perigosa e era noticias de paginas de jornais sobre crimes, assaltos e mortes diariamente. Quincas, porém sentiu a nossa desconfiança prometendo que ninguém jamais importunaria algum de nós, pois conhecia todos os meandros da comunidade há mais de 40 anos. Fomos num dia sábado calorento. Seguíamos no meu fusca KD-1150 e a Brasília de FG-1223 de Jamaci. Estacionamos na Rua Dr. José Mariano, ao lado da CILPE. Fomos recebidos com muita alegria no bar do Ramalho, pelo Josué, agora universitário e dona Filomena.  Havia um clima festivo com Mario Doce de Leite no violão, Cancão no tambor e Preto Velho no triangulo e Josué no cavaquinho. . Marianinha uma mocinha da comunidade encantava com a interpretação das musicas de Dalva de Oliveira, Ângela Maria e Cardoso com a sua voz grossa dava uma de “Nelson Gonçalves”. Foi uma tarde festiva com muita cerveja, rum Montilha e Pitu. Uma rabada foi servida e depois tira gosto com um sarapatel formidável, feito pela dona da casa. Saímos por volta das 20 horas.


Depois de muito tempo encontro o Quincas já cansado de guerra, bem vestido, escorado em uma bengala, penso de um lado a caminhar pela Rua da Aurora em uma tarde agradável e vento brando vindo do Rio Capibaribe, cheio devido à maré alta. Caminhamos para o ponto inicial da nossa amizade, por trás do Cinema São Luís no bar Continental.  Sentamo-nos à mesa e começamos a recordar o tempo passado. Hoje, disse-me ele, estou vivendo nas nuvens. Boa casa me foi dada pelo meu filho logo que se formou em Medicina, no bairro de Casa Amarela e pela Mônica que se formou em Engenharia Civil. Ela trabalha numa construtora e ele tem consultório próprio na Ilha do Leite. Hoje sou barão, mas tenho saudade do meu trabalho digno, suado mais fui recompensado por Deus. Tomamos duas cervejas e nos despedimos. Faz tempo que eu não o vejo.

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