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sábado, 19 de julho de 2014

Testemunhos do Vovô Zé - A Copa do Mundo não é nossa...


Vovó Marli, Vovô Zé e Davi na Arena Pernambuco.


Por Zé Carlos

Muito tempo antes de poder encarnar o Vovô Zé eu vi minha primeira Copa do Mundo em 1958. Da anterior, de 1954, que, hoje sei, foi ganha pela Alemanha, eu não me lembro de nada pois tinha apenas 6 anos. Por isso tenho dúvidas se o Davi, meu neto mais velho e quase com a mesma idade, lembrará de sua primeira Copa. Eu, sinceramente, espero que não. O desastre da seleção brasileira em 2014 contrasta em tudo com sua vitória em 1958.

Naquele ano, ainda em Bom Conselho, mesmo sem TV Digital, nem 4K, e mesmo sem TV nenhuma, foi o rádio que me fez despertar para o esporte que aprendi a praticar lá na Rua da Cadeia. Não havia meia furada que não fosse reaproveitada ou reciclada para os jogos de rua. Campo de futebol, para mim na época, nem pensar. No máximo íamos até à rua de Maneléu (hoje XV de Novembro) jogar numa areinha fofa que existia por lá, na qual os cavalos pisavam e faziam suas necessidades no domingo, dia em que lá se transformava num prado.

E neste ano de 1958, a seleção brasileira fez despertar na criançada o desejo de se tornar grandes jogadores de futebol, e eu era um deles. Times e mais times surgiram e quem não tinha um tratou de criar ou procurar os donos da bola para entrar num deles. Mas, voltando à copa em si, mesmo pelo rádio, tudo foi uma festa do começo ao fim. O Brasil foi ganhando dos austríacos, russos, franceses e finalmente dos suecos, e mesmo empatando com os ingleses, a Copa do Mundo era nossa. Quem, de minha geração não lembra daquela música, que dizia:

A Copa do Mundo é nossa
Com brasileiro, não há quem possa...?

Os meus olhos de criança brilhavam diante da espontaneidade das comemorações, do carnaval que se formou num domingo de julho, em nossa cidade. Lembro como um sonho, hoje um sonho do Vovô Zé. Naquela época eu era o Garrincha, jogador que mais admirava depois de Gilmar, quem não pude ser porque me convenceram que eu era baixinho para a posição de goleiro. Fiquei na ponta direita mesmo, onde ainda jogo, nunca gostei da esquerda.

Meu neto Davi, e agora também o Miguel, influenciados por nossa Copa recente, já são absolutos admiradores do esporte mais popular no Brasil. No início da Copa ambos queriam ser Neymar. Depois do jogo contra o Chile, ambos queriam ser Júlio César e Davi Luis. Até irmos ao jogo Alemanha x Estados Unidos na Arena Pernambuco. Eles brigaram para ver quem era Neuer, o goleiro alemão. Depois do desastre do Mineirão brigaram para ser o Close, centroavante alemão. E agora vocês imaginam quem eles querem ser? Qualquer um menos um brasileiro. Ainda insisti em Neymar, mas, o Miguel me falou que ele estava doente.

E doente ficamos todos nós com a perda do tão falado hexa, menos o Vovô Zé, que já é hexa há muito tempo. E os meus netos também, pois ambos torcem pelo Náutico. E um dos grandes problemas que tenho hoje é como convencê-los a continuar torcendo pelo nosso timbu que hoje mais parece o Íbis de tanto perder. Para salvar este dois torcedores ainda alvirrubros hoje tenho um argumento forte: Não me lembro de nenhuma vez que o Náutico tenha perdido de 7x1, como o fez nossa seleção este ano.

Mesmo diante do desastre futebolístico de nossa seleção, o Vovô Zé teve uma das copas mais felizes, fora do campo. Quase todo o tempo passei com os netos, e até indo à Arena Pernambuco pela primeira vez, e talvez única. Fui com o Davi e pude constatar seus grandes conhecimentos futebolísticos, obtidos dos álbuns de figurinhas (que o Vovô Zé e a Vovó Marli ajudaram a preencher ganhando nosso tempo nos troca-trocas da vida), programas de TV e jogando com a garotada:

- Davi, quem é este que está com a bola?

- Vovô Zé, tu és burro? É o Schweinsteiger!!! (Fui à internet para escrever o nome corretamente)

Quando da horrível ocasião do desastre do Mineirão estávamos separados. Eles em Caruaru e eu no Recife. Depois do quinto gol da Alemanha eu fiquei receoso que o Davi começasse a chorar com a decepção em relação à seleção. Liguei para ele pelo telefone e dei uma de avô que não pode ver neto sofrer nem quando faz gol contra, para dizer que não se preocupasse que futebol é para ganhar ou perder, e mais algumas bobagens que tentam dourar à pílula, mesmo sabendo que ela dói para ser engolida. O diálogo foi mais ou menos assim:

- Oi Davi, estás vendo o jogo?

- Estou, Vovô! Eu e o Miguel já estamos torcendo pela Alemanha!

- Boa, Davi! Viva a Alemanha!

Como invejei ser criança e resolver assim todos os problemas. Esta talvez tenha sido a melhor solução para não continuar tão triste quanto em outras copas, com seleções melhores e que perdemos também. Sei que nem sempre podemos mudar de lado quando perdemos, mas, quem era eu naquele momento para aconselhar meu neto a torcer pelo Brasil? Talvez faça isto na próxima Copa lá na Rússia. Espero que o Davi e o Miguel já tenham esquecido a de 2014.

P.S.: O ar triste do Davi na foto ilustrativa talvez fosse uma premonição do que iria ocorrer com a seleção brasileira, dias depois. 

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