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sexta-feira, 25 de julho de 2014

O defunto imortal e o lulismo




Por Zezinho de Caetés

Hoje, por não ter vivos escrevendo coisas interessantes eu comento um texto de um morto. Trata-se de um artigo publicado no O Globo de 01/07/2012, com o título de “A HORA DA SAIDEIRA”, no qual o autor escreve sobre Lula e o lulismo, o que poderia ser hoje o lulo/dilmismo, sem mudar o rumo da conversa.

Desde o título, já se sabe que o texto abordará algo relativo a Lula, pois foi naquele ano que o Lula tomou a “saideira” de 51, devido a problemas de saúde. Hoje ele se diz curado tanto da doença quanto do outro vício, o do alcoolismo. Sei não, mas pelo que ele anda falando por aí, parece só ter se curado da doença.

O homem, meu conterrâneo, perdeu de vez as estribeiras com o possível e quase certo insucesso eleitoral de seus postes prediletos (Dilma e Padilha), além do insucesso administrativo do poste mais novo (Haddad) e parece que maluqueceu de vez. Ouvir um discurso dele hoje deve ser um sacrifício enorme para aqueles que hoje se beneficiam do petismo, porque tem que ficar ouvindo e balançando uma bandeira, nos comícios em ambientes fechados. Nos ambientes abertos o Lula nem a Dilma podem ir mais devido às vaias e xingamentos.

Como diz com maestria o morto de quem eu transcrevo o texto abaixo, o João Ubaldo Ribeiro, a grande característica do PT é ficar no poder com unhas e dentes. Como dizia o Brizola, os seus cabeças pisariam até no pescoço da mãe para obter e permanecer no poder, como se vê e se viu nos últimos tempos (ou foi Lula que disse do Brizola, a memória me falha, mas tudo dá no mesmo). Hoje não há mais pejo em nenhuma atitude mesmo que todos saibam que quase toda frase que se pronuncia no partido é uma mentira deslavada, com o intuito de não sair do poder.

O que discordo do grande imortal João Ubaldo, e ele me desculpe por ter dito que ele estava morto, apenas erra quando diz que o PT se tornou corrupto apenas quando assumiu a presidência da república. Se é verdade que o PT é Lula, basta ver as histórias dos sindicatos em São Paulo para saber que isto não é verdade (basta ler o Nêumanne Pinto e contar os presos na Papuda). No resto tudo é verdade e por isso recomendo que leiam texto o abaixo, de um morto que não morrerá jamais.

O título que dei a este pequeno nariz de cera, penso eu, seria o título que o João Ubaldo daria se o texto fosse dele, sem querer me comparar com o grande escritor brasileiro, que morreu recentemente mas não morreu porque deixou escritos com este que apresento.

“Na semana passada, li um artigo do professor Marco Antonio Villa, que não conheço pessoalmente, mostrando, em última análise, como a era Lula está passando, ou até já passou quase inteiramente, o que talvez venha a ser sublinhado pelos resultados das eleições. Achei-o muito oportuno e necessário, porque mostra algo que muita gente, inclusive os políticos não comprometidos diretamente com o ex-presidente, já está observando há algum tempo, mas ainda não juntou todos os indícios, nem traçou o panorama completo.

O PT que nós conhecíamos, de princípios bem definidos e inabaláveis e de uma postura ética quase santimonial, constituindo uma identidade clara, acabou de desaparecer depois da primeira posse do ex-presidente. Hoje sua identidade é a mesma de qualquer dos outros partidos brasileiros, todos peças da mesma máquina pervertida, sem perfil ideológico ou programático, declamando objetivos vagos e fáceis, tais como “vamos cuidar da população carente”, “investiremos em saneamento básico e saúde”, “levaremos educação a todos os brasileiros” e outras banalidades genéricas, com as quais todo mundo concorda sem nem pensar.

No terreno prático, a luta não é pelo bem público, nem para efetivamente mudar coisa alguma, mas para chegar ao poder pelo poder, não importando se com isso se incorre em traição a ideais antes apregoados com fervor e se celebram acordos interesseiros e indecentes.

A famosa governabilidade levou o PT, capitaneado por seu líder, a alianças, acordos e práticas veementemente condenadas e denunciadas por ele, antes de chegar ao poder. O “todo mundo faz” passou a ser explicação e justificativa para atos ilegítimos, ilegais ou indecorosos.

O presidente, à testa de uma votação consagradora, não trouxe consigo a vontade de verdadeiramente realizar as reformas de que todos sabemos que o Brasil precisa — e o PT ostentava saber mais do que ninguém.

No entanto, cadê reforma tributária, reforma política, reforma administrativa, cadê as antigas reformas de base, enfim? O ex-presidente não foi levado ao poder por uma revolução, mas num contexto democrático e teria de vencer sérios obstáculos para a consecução dessas reformas.

Mas tais obstáculos sempre existem para quem pretende mudanças e, afinal, foi para isso que muitos de seus eleitores votaram nele.

O resultado logo se fez ver. Extinguiu-se a chama inovadora do PT, sobrou o lulismo. Mas que é o lulismo? A que corpo de ideias aderem aqueles que abraçam o lulismo? Que valores prezam, que pretendem para o país, que programa ou filosofia de governo abraçam, que bandeiras desfraldam além do Bolsa Família (de cujo crescimento em número de beneficiados os governantes petistas se gabam, quando o lógico seria que se envergonhassem, pois esse número devia diminuir e não aumentar, se bolsa família realmente resolvesse alguma coisa) e de outras ações pontuais e quase de improviso?

É forçoso concluir que o lulismo não tem conteúdo, não é nada além do permanente empenho em manter o ex-presidente numa posição de poder e influência. O lulismo é Lula, o que ele fizer, o que quiser, o que preferir.

Isso não se sustenta, a não ser num regime totalitário ou de culto à personalidade semirreligioso. No momento em que o ex-presidente não for mais percebido como detentor de uma boa chave para posições de prestígio, seu abandono será crescente, pois nem mesmo implica renegar princípios ou ideais. Ele agora é político de um partido como qualquer outro e, se deixou alguma marca na vida política brasileira, esta terá sido, essencialmente, a tal “visão pragmática”, que na verdade consiste em fazer praticamente qualquer negócio para se sustentar no poder e que ele levou a extremos, principalmente considerando as longínquas raízes éticas do PT. Para não falar nas consequências do mensalão, cujo desenrolar ainda pode revelar muitas surpresas.

O lulismo, não o hoje desfigurado petismo, tem reagido, é natural. Os muitos que ainda se beneficiam dele obviamente não querem abdicar do que conquistaram. Mas encontram dificuldades em admitir que sua motivação é essa, fica meio chato. E não vêm obtendo muito êxito em seus esforços, porque apoiar o lulismo significa não apoiar nada, a não ser o próprio Lula e seu projeto pessoal de continuar mandando e, juntamente com seu círculo de acólitos, fazendo o que estiver de acordo com esse projeto.

Chegam mesmo à esquisita alegação de que há um golpe em andamento, como se alguém estivesse sugerindo a deposição da presidente Dilma. Que golpe? Um processo legítimo, conduzido dentro dos limites institucionais?

Então foi golpe o impeachment de Collor e haverá golpe sempre que um governante for legitimamente cassado? Os alarmes de golpe, parecendo tirados de um jornal de trinta ou quarenta anos atrás, são um pseudoargumento patético e até suspeito, mesmo porque o ex-presidente não está ocupando nenhum cargo público.

É triste sair do poder, como se infere da resistência renhida, obstinada e muitas vezes melancólica que seus ocupantes opõem a deixar de exercê-lo. O poder político não é conferido por resultados de pesquisas de popularidade; deve-se, em nosso caso presente, aos resultados de eleições.


O lulismo talvez acredite possuir alguma substância, mas os acontecimentos terminarão por evidenciar o oposto dessa presunção voluntarista. Trata-se apenas de um homem — e de um homem cujas prioridades parecem encerrar-se nele mesmo.”

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