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terça-feira, 8 de abril de 2014

Os Pés do Pavão




Por Carlos Sena. (*)

Ousar, o que seria isso quando se escreve par bulir (bulicuntu)? Pois é isso que imagino seja o ofício de mexer com as letras e lhes dar vida - literalmente corpo e alma. Por isso fiquei feliz quando muitos diletos amigos e meus assíduos leitores me disseram, dentre outras coisas que sou buliçoso no que escrevo. A minha felicidade em saber disso se consolida no fato de que, no meu entender, não se pode escrever sem ser provocativo, mesmo quando focamos temas leves, crônicas suaves. Certamente que há quem não goste dos meus palavrões. Mas eu gosto, até porque tenho a certeza de que ele, o palavrão, depende mais de cada um, pelo princípio da relatividade cultural. Porque, a rigor, diante de uma topada, nunca vi ninguém dizer "aí meu Deus", mas um PUTA QUE PARIU, certamente.

O compromisso com o bem escrever, acredito, não dispensa um bom domínio da língua. Como não dispensa o autor de ter uma capacidade para elaborar sempre um "elemento surpresa" para ajudar o leitor a se interessar mais ainda pelo que esteja lendo.

Romper paradigmas, buscar ângulos de visão pouco óbvios da realidade concreta, são outros importantes elementos de um texto escrito, principalmente na modalidade "crônica"ou prosa de modo geral. Há quem me ache irreverente, debochado, bocudo, meio pornô. E isso pra mim é bom, porque eu processo as palavras a tiracolo da moral e da falsa-moral. Porque na vida, "todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer" e nós sabemos, rigorosamente que "não se faz omelete sem quebrar os ovos, nem tampouco entender que o último pingo não seja o da cueca"... Os ditos populares não são por acaso que se consolidaram. Eles são uma excelente fonte de sabedoria que, bem utilizados, render reflexão. Para encerrar essas elucubrações, convido-os a refletir sobre os pavões. Todos os acham lindos, pois seus esplendor de cores e penas belas, não nos leva a ver os seus pés. Os pés dos pavões, são terríveis de feio, mas poucos o vêem, porque a gente sempre se liga mais no que nos rende glamour. Pois é. Há pessoas-pavão. A gente só vê os seus "horrorosos" pés com a convivência. Por isso adoro essa capacidade de ser buliçoso com o que escrevo.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 18/02/2014

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