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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Procurando Estadistas




Por Zezinho de Caetés

Semana passada se foi um dosmaiors homens de todos os tempos: O Nelson Mandela. Modernamente, não tem aparecido homens como ele em nosso planeta. Corajoso, coerente, inteligente e acima de tudo um estadista. Via seu país e não seu partido. Chega me dá um arrepio quando tento compará-lo com um político brasileiro. Faz muito tempo que não temos um estadista por estas bandas. Talvez, o último tenha sido D. Pedro II, e mesmo assim, contemporizou com a escravidão, deixando à sua filha a tarefa de aboli-la.

O texto do Sandro Vaia, abaixo transcrito (Blog do Noblat em 13/12/2013), começa reclamando que a palavra “estadista” nunca foi tanto usada. E com razão. Seu, título “Palavras, gestos e atos”, também nos lembra quanto, aqui em nosso berço esplêndido do futuro, estas três coisas divergem.

Enquanto a presidenta Dilma diz que não está na presidência para fazer “muquifos” para população, no Rio de Janeiro a água leva os “muquifos” por ela construídos, no Minha Casa, Minha Vida. Enquanto o presidente Lula cerra os punhos para homenagear os seus colegas bandidos presos, já disse um dia até que o mensalão nunca existiu, depois de dizer que se sentia envergonhado com o evento. O mesmo Lula, no programa gratuito do PT na TV elogia o Bolsa Família pela passagem dos seus 10 anos (pelo, menos nos moldes eleitoreiros), há filmes e mais filmes, gravações e mais gravações mostrando que ele era um dos principais críticos do programa, ainda na fase FHC.

E no enterro do Mandela, num gesto orientado pelo seu marqueteiro, a presidenta convida todos os ex-presidentes para o funeral, e lá vão todos juntos nossos mais recentes projetos de estadista. Seria cômico ou trágico dizer que o único estadista foi o Sarney? Sei lá. Penso que nenhum, mesmo que reconheça que, pelo Plano Real e as privatizações (agora, tardiamente adotadas pela presidenta), o que chegou mais perto foi o FHC. Mas, se os compararmos com o Nelson Mandela, a medida é em anos-luz.

Mas, fiquem com o texto do Vaia, que conta mais sobre o evento da morte do Mandela, que eu  vou, pegar minha lanterna, igual ao Demóstenes (não o da cachoeira, o outro, grego) e sair por aí procurando um estadista. Vai ser um procura difícil, mas, quem sabe? A esperança é a última que morre.

“A palavra “estadista” nunca foi tão usada e abusada quanto nesta semana em que o mundo parou para lembrar, dançar, chorar e enterrar Nelson Mandela.

E a civilização do espetáculo, em que a cultura foi substituída pelo culto ao entretenimento, para simplificar a tese do Nobel Vargas Llosa, teve alguns momentos de culminância: o show Obama-Michelle-Cameron na sessão “selfie” com a loira dinamarquesa; o aperto de mão de Obama e o ditador cubano Raul Castro; o engodo universal do falso intérprete de sinais para deficientes auditivos, com seu irônico espetáculo cheio de gestos e vazio de conteúdo.

A presidente Dilma também reservou para si um cantinho do palco. Escalada para ser um dos oradores oficiais das exéquias, contribuiu para o espetáculo não só com seu modorrento discurso, mas também com seu voo ecumênico, onde inclui como passageiros todos os ex-presidentes vivos do País -- entre os quais um que foi obrigado a renunciar para não sofrer impeachment por corrupção.

Se Obama levou os Bush pai e filho, Clinton e Carter, por que Dilma não podia dar a sua lição de tolerância carregando seus antecessores, mesmo aqueles que, segundo declarações que deu num seminário antes da viagem, contribuíram para “aumentar as desigualdades do país”, que ela pretende extinguir?

Um gesto espontâneo de grandeza. Tão espontâneo que foi cantado em prosa e verso pela máquina de propaganda do Planalto e alardeada pela própria presidente em seu twitter oficial, como lição de convivência democrática. Uma convivência mercadologicamente conveniente.

Enquanto o tamanho de Mandela ficava em discussão, com a grande maioria convergindo para a tese do estadista, alguns intolerantes preferiam classificá-lo como “terrorista”, como se a luta contra a infâmia do apartheid pudesse ser comparada à delicadeza e arte de uma competição de florete.

O colunista Thomas L. Friedan, do The New York Times, escreveu sobre a “reserva moral” que Mandela acumulou ao longo de sua vida. E cita como exemplo singelo uma cena do filme “Invictus”, de Clint Eastwood, onde o presidente sul-africano (interpretado por Morgan Freeman) se manifesta contra a mudança das cores da seleção nacional de rúgbi, que durante anos foram símbolo da suposta supremacia branca. “Isto não serve à nação. Temos de surpreendê-los (referindo-se aos brancos) com moderação e grandiosidade”.

“Há muitas grandes lições nessa cena curta” -- escreveu Friedan. “A primeira é que, uma maneira de os líderes criarem autoridade moral é estarem dispostos a desafiar as suas próprias bases, às vezes -- e não somente o outro lado. É fácil liderar dizendo à sua própria base o que ela quer ouvir. É fácil liderar quando se está dando coisas. É fácil liderar quando as coisas vão bem. No entanto, é realmente complicado conseguir que sua sociedade faça algo grande e difícil”.


Tão complicado quanto juntar palavras, gestos e atos num mesmo significado.”

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