Em manutenção!!!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

'Lincoln', Lula e o mensalão





Por Zezinho de Caetés

Eu não posso dizer que só fui assistir ao filme ‘Lincoln’, porque li o texto do Senador pernambucano, por Brasília, Cristovam Buarque, publicado no Blog do Noblat em 04.02.2013, tendo como título “‘Lincoln’, o filme de Steven Spieberg”. Foi apenas pura coincidência que eu o lesse no mesmo dia em que me desloquei para um cinema próximo e assisti à bela peça cinematográfica. E aqui não me deterei nos aspectos cinematográficos em si, pois o Oscar vem por aí.

Já faz algum tempo, e não me perguntem onde, eu vi um texto tentando relacionar o comportamento político do evento narrado com o mensalão. Nele o seu autor tentava até, pasmem, justificar o crime cometido e já julgado e condenado pelo STF, pelo que se passou nos Estados Unidos em 1865. O texto abaixo do senador também faz uma comparação, mais sutil, e com o cuidado de não justificar crimes de lesa pátria com pecadilhos que existiram nas negociações para aprovar a emenda à constituição americana que aboliu a escravidão naquele país.

Quando se diz que a atividade política não é para vestais, com bons sentimentos, não que se dizer que se possa fazer tudo de ruim a partir dela. Com bons sentimentos pode-se dizer isto apenas para mostrar que a política é feita por homens e não por deuses, tanto lá, nos EEUU, quanto aqui. O que vi no filme foi uma constatação deprimente, se quiser fazer comparações no tempo, que os homens de lá prezam os valores morais e legais mais do que aqui é feito.

Eu não sou um especialista em história americana, e nem mesmo em história brasileira para entender tudo o que se passou naqueles dias corridos e nervosos que o filme tenta mostrar, com maestria, ao ponto de ter de usar toda minha capacidade de concentração para não perder um só diálogo, com palavras profundas, até nos mais inesperados momentos.

Durante o filme, vemos de tudo, corrupção, compra de votos, nepotismo, machismo, humanismo, sensibilidade, inteligência, mas, acima de tudo, Política feita com P maiúsculo. E isto só foi possível porque havia uma causa que só um homem de visão e estadista como o Lincoln poderia vislumbrar sua importância naquela época: A abolição da escravatura.

Havia uma guerra civil no país por causa do desentendimento em torno da escravidão negra. Ao longo do filme, diante dos horrores da guerra o diretor nos mostra os horrores da escravidão, que para os da época era tida como um fato natural. Ora, dizia um escravocrata, se Deus quisesse os homens iguais os teria criado todos brancos. Uma discussão que hoje nos parece ridícula, pois pensamos que não existem mais escravos, foi motivo para a maior carnificina da história americana. E pensar que hoje nem raças existem mais do ponto de vista biológico.

E o Linconl, um dos presidentes mais populares do país, diante de um congresso desfavorável à emenda da abolição, usou de todos os meios para que a emenda fosse aprovado, o que o foi, tornando o final do filme simplesmente apoteótico, até que alguém dar a notícia de que o haviam assassinado. E o filme termina neste anti-clímax cruel do ponto de vista do cinema e da história. E com um dos parlamentares dizendo que presenciou a corrupção do homem mais puro que ele conheceu, no evento.

Realmente não se pode deixar de fazer um paralelo com nossa história recente, como o faz o senador, abaixo, e eu o faço de modo diferente.

Se tivermos tempo de meditar durante o filme veremos lá o Roberto Jefferson, o Zé Dirceu, o Genoíno, o Demóstenes, o Renan, o Sarney. Vemos até  mesmo umaa Marisamais corajosa e determinada, embora não vejamos nem a Rosemary nem o Lula. A influência da mulher de Linconl e de sua família em suas ações é colocada no filme e não é pequena. Mas, não podemos comparar o filho do presidente americano, pedindo para ir para a guerra, não tendo o consentimento do pai, a pedido da mãe, com o Lulinha recebendo dinheiro de um empresa para ajudá-lo em seus negócios, que o fizeram um rapaz de posses, ao afastá-lo dos animais do zoológico.

Nem tampouco poderemos comparar a mesquinhez das causas envolvidas em nossa política com a causa em questão na fita. Nem tampouco poderemos ver qualquer atitude do Linconl para tentar simplesmente acabar com a independência e equilíbrio entre os poderes como aquele que foi vista aqui patrocinada, segundo a denúncia do Marcos Valério, pelo Lula, que diz de nada saber, como se fôssemos idiotas.

Lá no filme, até o Valério é bem representado na figura de 3 pessoas encarregadas de “convencer” os oponentes da emenda a mudarem de posição. E não conseguindo eles seu intento com todos, o próprio presidente foi “convencê-los” e conseguiu com um bom número. No entanto, nem o fato de dizer que não sabia das coisas, sabendo, leva o Lula a ser comparado com o Lincoln. Por que? Pela causa envolvida, e pela mudança tecnológica. Vemos nos filme alguém sair correndo do Capitólio (congresso) até a Casa Branca para avisar ao presidente de uma decisão. Hoje temos os imeios.

Alguns me perguntarão se os fins justificam os meios, maquiavelando a política de uma vez. Esta é uma questão muito séria e que merece ser discutida. Entretanto, para não dizer que estou fugindo da resposta, eu diria que há uma gradação de fins o que leva a uma gradação para ética e para a moral humana. Os valores absolutos só existem dentro de determinados espaço e tempo, como nos ensina a história da humanidade. O que não podemos ser é relativistas morais no nosso espaço e no nosso tempo, pois isto só nos leva ao pior dos mundos, no futuro. Um dos eixos políticos que nos direcionam numa república para nossa atuação é nossa Constituição e o sistema legal. Politicamente, esta nos baliza em nosso tempo, até que mude..., mas aí já é outra discussão, como ocorreu nos Estados Unidos com a emenda aprovada.

Mas, fiquem com o texto do Senador Cristovam e não deixem de ver a fita. Vale a pena!

“Assisti ao filme Lincoln, no dia seguinte à eleição do novo presidente do Senado. O centro do filme está nas articulações no Congresso norte-americano durante os dias que antecederam a votação da emenda constitucional que aboliu a escravidão nos EUA.

O que se percebe são os debates dentro do Congresso e a movimentação intensa do presidente e de seus assessores para obterem os votos necessários em uma decisão muito difícil, que aprovou a abolição por 119 a 56, na Câmara dos Deputados, e por 38 a 6, no Senado.

Até o último momento, Lincoln não tinha os votos necessários. Foi preciso uma articulação cuidadosa, um a um de um grupo de contrários ou indecisos, até obter-se a maioria, durante a própria votação. Em um suspense que em nada se parece com as votações de hoje no Congresso brasileiro, onde um rolo compressor, sem ideologia, mas por acordos anteriores, aprova qualquer proposta vinda do Poder Executivo.

O filme mostra a determinação e a habilidade de Lincoln. Mostra que na democracia para conseguir votos necessários no Congresso é preciso transigir, negociar, até mesmo oferecer vantagens para obter mudanças de lado entre deputados e senadores. Mas uma negociação onde o Congresso demonstre sua independência e força, mesmo com um presidente muito popular e que liderava uma guerra civil de quatro anos.

O filme mostra duas grandes diferenças entre o que acontece nas relações entre Executivo e Legislativo no Brasil, cujo exemplo é a eleição do presidente do Senado. Primeiro, lá as negociações não visavam criar base permanente, fazer alianças espúrias que servissem para implantar um presidencialismo monárquico. Segundo, lá as negociações foram por uma causa, a abolição da escravatura.

O que enfraquece hoje o Congresso brasileiro é a perda de causas no exercício da arte da política. E em consequência, sem elas, a política vira um jogo menor de artimanhas por interesses pessoais, alguns querendo o poder pelo poder, outros querendo o poder para enriquecer com dinheiro público.

Seria interessante passar o filme Lincoln para que os senadores assistissem e, depois, dedicassem uma sessão plenária para debater como é bonito quando Política casa com História.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário